Antologia Slam do Capim Xeroso – Dois poemas de Rodrigo Silva
Nesta sexta feira, inicia-se a nossa Antologia do Slam do Capim Xeroso na Ruído Manifesto. Sabemos que em meio à crise sanitária no país, ficou difícil estabelecer relações da cultura do Slam com a rua. Indo das periferias da cidade até o centro, poetas se articulavam pra aderir a esse movimento e recitar seus versos no Beco do Candeeiro. Nossas atividades ainda não retomaram como grupo, porém, cada artista desse segmento apresentará a cada 15 dias um pouco de sua ginga com as palavras. Hoje, o primeiro round é com o poeta Rodrigo. Seja bem-vindo Rodrigo! Vida longa à Poesia de Rua!!!
Rodrigo Salomé Silva é Professor em formação, antagônico a toda vã certeza da pré-história.
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Prece contra cegueira
Longe capela de fronte
Parque dos finos flagelos
Livres da sanha e do br[eu]
Façamos ternuras
Derrubemos esculturas
Você
e
eu
Classe, sua linda
Sobre os olhos, areia seca
Limpe-se da sujeira
Forme-se desejável
[I]mensure seu tamanho
Que não tem tamanho que compare
Que isso não demore
Pra isso, eu te preciso
E você, de
nossa
classe
Sinta, informe, busque
Veja tudo com rebusco
De posse dessa visão
Enxergar festividades
Com a mente e com a mão
Vendo a humanidade
Fazendo a distinção
Do que é concreto
Do que é ilusão
Quem um dia,
Teve a fria e descarada mania
De dizer sem possibilidade
Que a minha e sua alegria
Dependesse da vontade alheia?
Livremos dessa cegueira
Que nos leva a até vala da logra votação
Induzindo-me, e você, sua mãe, seu irmão
[Pi pi, piuiuiui]
Sagrou-se campeão, esse que venceu
Tem o da vez, teve o da outra vez, tanto faz
Ganhou status de representante
Colou tenaz
Com natureza quase constante
Cresceu para o alto
Acumulou mercado
Esbanjou simulacro
Governou para o lado
[cidade maravilhosa…]
Aquela sombra com água
Aquele emprego bem pago
Aquele chão perfumado
Aquela ordem familiar
Ei, psiu… é fake
Não vê que a comida alçada à frente
Está amarrado no que monta?
De uma ponta
a outra
Para que o espaço
do alimento até a boca
Não seja igual a cada passo
Lutemos.
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QUEM vs O QUE
E então
Novamente
A opinião se divide
Oportunamente dou a minha
Não hesite, se nos divide, duvide
Domina as cabeças a falsa indecisão
Quem será o melhor para nós nessa eleição?
Quem será o melhor?
O menos pior?
Por pior
Que possa parecer
Passo pano para os meus
Por enquanto deixo brando
Aos que ainda não vislumbram
Passem e peguem
A visão
Que não é turva
Nos enche de lição
A regra desse fatídico jogo
Não foi feita pra você peão
Deixe-me perguntar
Quem pode melhor nos representar
Senão nós mesmos juntos a lutar?
Sim
Sou da opinião
De que não deve existir patrão
Quiçá esse dia há de chegar
Se com isso em algum lugar
Não te fizer mudar a questão
Ao menos então
Diga não
Ninguém
É melhor para nós
Do que nós mesmo
Mude a pergunta enquanto é cedo
Não é o “QUEM” [este nos dá receio]
E sim o “O QUÊ” [profundo desejo] é melhor para nós?
É melhor pra você
É melhor
Você
É