As cores que habitamos – Por Aline Wendpap
Aline Wendpap é cuiabana “de tchapa e cruz”, nascida em 1983. Primeira Doutora em Estudos de Cultura Contemporânea pelo PPGECCO da UFMT, Mestre em Educação pela mesma Universidade, Bacharel em Comunicação Social – Habilitação: Radialismo (UFMT), integrou o Parágrafo Cerrado, coletivo dedicado a leituras de cenas de espetáculos. É autora do livro A Televisão sob olhar das crianças cuiabanas (2008, EdUFMT).
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AS CORES QUE HABITAMOS (Marithê Azevedo, 2021. 55”28’)
Para celebrar o clima de fim de ano que já está instalado e refletir sobre estes tempos tão particulares que temos vivido nos últimos anos escrevo sobre “As Cores que Habitamos”, um documentário da cineasta Marithê Azevedo, filme, que além de proporcionar discussões muito pertinentes sobre o povo e a cidade, traz uma mensagem de esperança e paz para o futuro.
A produção, beneficiada pela Lei Aldir Blanc, já fervilhava na cabeça irrequieta da também doutora e professora Maria Thereza Azevedo algum tempo antes de sua realização, e, é justamente graças a isso que temos um colorido mosaico – ou deveria dizer caleidoscópio?! – de cenas oriundas de eventos diversos, tais como encontros, fóruns, saraus, rodas de conversas, oficinas, etc. que trazem muita amplitude para o que vemos.
Apesar da grande diversidade de eventos e formas de captação, os aspectos técnicos demonstram muito zelo e preocupação por parte da equipe. As imagens, o som, o roteiro, tudo é muito bem orquestrado e funcionada tão bem, que cada cena nos instiga à próxima. Neste sentido, o trabalho de edição é um dos pontos fortes, em minha opinião, pois há muito material bruto de todos esses eventos e a maneira como foi encadeado parece promover uma partilha com o público.
Partindo de discussões sobre a cidade somos levados a pensar sobre o próprio comportamento humano. E, apesar de se passar em Cuiabá, as reflexões lançadas podem se espraiar para qualquer canto do mundo, afinal todos somos humanos e temos as mesmas dores, com uma multiplicidade de cores.
O documentário trata de temas pesados, como discriminações de raça, de etnia, de classe social, de gênero, dentre outras e ainda assim vai fluido como a água corrente, imagem que abre a produção e também pauta trazida por várias falas de entrevistados, que parece conectar, ou melhor, parece lavar todas as impurezas dos corações acumuladas pelos que se querem “civilizados”.