Aurora em Outono
O romper da manhã traz consigo a lembrança do nome dado de um jeito meio torto a uma sensação viva de êxtase. Toda vida era então feita de duas estações: quando ela estava aqui e o senão. A primeira perfumava o espaço, preenchendo de flores a distância entre nossos chinelos esquecidos a esmo pelos cantos do quarto, da sala, ou onde quer que a vontade decidisse lembrar-me quão maiores éramos e quão pequeno é tudo se a segunda estação é quem dava as caras. Aí tudo era seco e inverno, ausência, espera, angústia, quimera.
Hoje, há nova estação, aquela na qual ela nunca vem. Feitiço outonal do tempo, desvario das horas, perturbado e inútil como um desdentado a cravar as gengivas na carne em solidão. Só a imagem é engraçada, o que a traz não.
Da soleira da porta, meu gato começa a recitar Allan Poe.