“Cabelo Bom” (2017) – Por Maria Flô
Cabelo Bom. Direção: Swahili Vidal e Cláudia Alves. País de Origem: Brasil, 2017.
O documentário, de Claudia Alves e Swahili Vidal, intercala depoimentos das entrevistadas com cinema expandido ao projetar, no rosto de mulheres crespas, discursos que abordam empoderamento negro através da estética, e “estética negra empodera, sim, porque não dá para enfrentar o racismo quando você ainda se odeia.” (Portal Geledés, 2016). Percebemos que esse apelo à aparência não vem apenas de demandas atuais, pois está presente em uma das projeções de 1968 de Kathleen Clever, em que relata, sobretudo, como as mulheres negras buscaram por muito tempo no modelo branco de beleza formas de se sentirem bonitas e aceitas, até mesmo por homens negros.
Rompendo com esses padrões, para além da aceitação dos homens, Tay Oliveira, Gabi Monteiro e Aíná Garcia, que são empreendedoras da área do embelezamento crespo, trazem em suas vozes histórias de autonomia, autoestima, de dias de incredulidade e mensagens de esperança na nova geração.
Porém, com a voz de Marina Isis, cantando a música “Pra matar preconceito”, surge entre um relato ou outro imagens de mulheres negras afagando seus cabelos como se estivessem em frente a um espelho, daí noto que o espelho sou eu que as vejo do outro lado da tela, e é então que sinto minha pele arrepiar e meu rosto arder.
É como se eu recebesse um beijo de cada ancestral, dizendo-me: “Existe todo um horror e incômodo estampado no rosto das pessoas quando uma mulher negra subverte o senso comum e se mostra dona do seu prazer, do seu corpo e das suas escolhas.” (Maria Rita Casagrande, 2018).
Cabelo Bom atravessa como um beijo e um tapa. Um tapa na cara da sociedade e beijo na autoestima de nossas mulheres negras.
* Melhor Filme da mostra segundo o Júri Popular (prêmio dividido com o documentário Maestrina da Favela, de Falani Afrika).
** Texto escrito a partir da programação (mostra competitiva) da 3ª Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso, em Cuiabá (MT), ocorrida no período de 09 a 11 de novembro de 2018.
*** Maria Flô é artista marginal, mãe, negra e cineclubista.