Cinco poemas de Ana Paula de Oyá
Ana Paula Barbosa ou Ana Paula de Oyá é Mulher Preta, Mãe, periférica, professora de escola pública do Estado de São Paulo, poetisa, arte-educadora. Tem formação escolar técnica em magistério, graduada em Ciências Biológicas, Pedagogia e pós- graduada em Psicopedagogia e Docência do Ensino Superior. Considera que escrever é uma arte e uma terapia. Não classifica sua escrita, prefere tratar seus escritos como pensamentos e reflexões pessoais, porém compartilhadas. Resolveu tornar seus pensamentos públicos a partir do ano de 2009 com a Criação Coletiva do Blog A Casa dos sentidos, espaço esse fundado e utilizado por um grupo de amigos. Articuladora Cultural desde 2011, quando iniciou suas atividades no Coletivo Cravo Branco, no qual desenvolveu atividades como “Sarau Do Cravo”, Projeto e livro “In-formação Poética – Na Rua, Na escola e Na Memória” (2015) e “Projeto Espaço Cultural Brito Broca” (2017) entre outras. Em 2013, tornou-se membro ativo, junto com o Coletivo Cravo Branco, do projeto Movimento de Cultura Pirituba/Jaraguá que, no ano de 2016, foi renomeado como MOCUPIJA- Movimento Cultural de Pirituba e Jaraguá, participando inclusive da transição e estabelecimento de residência deste coletivo junto à Biblioteca Municipal Brito Broca, tornando o local conhecido como Biblioteca e Espaço Cultural Brito Broca no bairro de Pirituba. Também tem participação como colaboradora no Coletivo Frente de Resistência Samba Do Congo, localizado no bairro do Morro Grande Zona Norte. Em 2017, lançou a página Expressões e Plenitude para publicação dos seus pensamentos e, a convite do Artista Andrio Candido, participou com outros poetas do festival Arte e Cultura na Kebrada e, em 2018, teve um poema de participação no álbum Ensurdecedor Mesmo é o Silencio do artista ZoiooMC, na faixa intitulada Canto de Fé. Essas atividades contribuem para sua escrita, já que através delas, passou a conhecer e frequentar atividades, como as do Sarau Elo da Corrente, do Sarau da Brasa, do encontro de Compositores do Samba do Congo, do Reduto do Rap, do Subterrâneo – A Base, além de ter tido pessoas que passaram de artistas inspiradores a amigos inspiradores e incentivadores dos seus trabalhos. Considera que escrever é uma arte, uma terapia e um modo intenso de expressão e que se faz cada vez mais importante e presente para o povo da periferia.
Links: https://www.facebook.com/paulaexpressoeseplenitude/
http://acasadosentido.blogspot.com/
https://www.facebook.com/InformacaoPoetica/
https://www.facebook.com/ColetivoCravoBranco/
***
Fardo de sonho
Sentimentos confusos,
Peito apertado,
A dor da impotência,
Fardo mal carregado.
Quis pegar mais do que aguentava
E agora não pode largar
Tem que mostrar sua fibra
E ao fim da trilha chegar
Pelo amor ou pela dor
A de sua missão ser cumprida
Mesmo que a estrada seja de buracos
Mesmo que tenha muita curva nesta ida.
Leve seu fardo de sonhos
Carregue contigo a desilusão
Um dia vem, no outro vai
É essa inconstante
Que ainda te faz caminhar
*
João tinha 13 anos
Ele era um João, tinha 13 anos.
Para muitos ele é só mais um “Jão” pidão, na porta de um estabelecimento, onde muitos desfrutam da felicidade de poder escolher o que comer.
Ele era um João tinha 13 anos.
Pobre, periférico desses que a maioria não costuma dar muito crédito.
Onde já se viu um João qualquer atrapalhar com sua aparência periférica o fluxo do comércio alimentício?
Ele era um João tinha 13 anos…
Quantos Joãos de 13 anos morrem na nossa cara, na nossa terra e poucos se importam?
João tinha 13 anos periférico
João tinha 13 anos negro
João tinha 13 anos pobre
João tinha 13 anos Brasileiro.
De várias formas estão tentando acabar com nossos Joãos de 13 anos…
Espancados…
pela falta de educação,
pela falta de cultura,
pela falta de oportunidade,
pela falta de políticas decentes,
pela falta de amor,
pela falta de dinheiro,
pela falta de condições dignas de viver.
Estão matando nossos Joãos de 13 anos…
Espancados…
pela ganância,
pela falta de compaixão,
pelo poder,
pela farda,
pelas drogas,
pela ignorância,
pela falta de visão de futuro.
Estão matando nossos Joãos de 13 anos,
Estão matando nossas Marias de 13 anos,
Estão matando nossas crianças, com as mais variadas formas de se assassinar o futuro de um país.
Ele era um João de 13 anos…pobre, periférico e brasileiro.
*
Plenitude
A plenitude é encontrada em um gozo contínuo.
Quando dois corpos viram um.
Um jogo jogado dois corpos suados.
Sussurros e gemidos, revelam um desejo escondido.
Resumo de felicidade que com certeza vai deixar saudade.
No ápice do ato carnal
Todo o resto se torna banal
As mãos se unem, apoio para a penetração de sentimentos
Transbordando toda a vontade que vem de dentro.
Eu quero, você quer, nós queremos o auge do desejo alcançar
E atingindo o Nirvana do prazer
Estaremos nós experimentado a verdadeira plenitude.
*
Preto
Preto, venha que sua preta lhe espera.
Bora construir a vida em uma nova era.
Dois corpos pretos em uma única atmosfera
Vivendo do amor que tanto nos liberta.
Preto, a vida é curta pra quem perde tempo
O vento sopra a favor do nosso dengo
Corpos pretos se amando de um jeito intenso.
Preto, suados vamos curtindo o movimento
A vida nos encaminha ao melhor momento
Onde juntos vamos nos valendo
De forma a aproveitar o calor produzido
Entre nós e o nosso aconchego.
Preto, nos seus braços me sinto amparada
Elevando a vontade juntos nessa caminhada
Dois corpos pretos sabor de madrugada
Felicidade anunciada em um beijo, um cheiro,
Preto e preta se entregando sem medo
Amor de preta é estar com seu preto
Preto….
*
Xirê
Motumba a todos os Orisás!
Esu, que me dá caminhos,
Ogum, que me mantém na trilha aberta e certa,
Osóssi, que não me deixa perecer na falta da fartura,
Omolu, que não me deixar faltar a saúde e energia,
Ossain, que não me deixa esquecer da minha raiz,
Osumare, que me abençoa com arco-íris e chuvas de transformações,
Iroko, que me faz firme,
Logun, que me deixa contemplar as belezas,
Osum, que me enche de riquezas, também as de sentimento,
Iemanjá, mãe que me acolhe,
OYA , o vento que me aponta o certo e o errado, força que move, mãe que me ensina,
Oba, que não me deixa desanimar nas lutas,
Ewa, que não me permite deixar de sonhar e concretizar os sonhos,
Nanã, que me abençoa com mais um ano de vida,
Sangô, que me mostra a justiça certa de Orisá,
Osalá, que molda a cada dia minha Ori,
Ibejis presentes na alegria inocente de cada momento de felicidade,
Que no Sirê da vida esses sempre venham a ser meus alicerces, minhas bases de amor e proteção!
Asé, asé, asé!