Cinco poemas de Carlos Amorim
Carlos Amorim, pseudônimo de Moisés Carlos de Amorim, nasceu em 21 de julho de 1987, na cidade de Cuiabá. Mas desde o seu nascimento reside em Santo Antônio de Leverger. Aos 14 anos já lia os livros de literatura e foi nesse momento que começou a escrever poesia. Mais tarde, no ano de 2006, estudou português/literatura na Universidade Federal de Mato Grosso. Logo depois, em 2012, iniciou o mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea também pela UFMT. Atualmente é doutorando em Estudos de Linguagem, na mesma universidade. É professor da rede pública estadual e possui um livro de poemas publicado, a obra Entre dias e noites, que reúne boa parte de sua produção literária. Em 2019 tem a pretensão de lançar uma segunda obra de poesias, que ainda está sem título.
***
Noturno
À boca da escuridão, surge o reino dos vaga-lumes.
Campos em flor pacificam a alma cansada.
Sobre o arbusto uma coruja pia em consonância
Ao barulho do tempo…
Na estrada velhos espíritos iniciam a vigília.
Perante o brejo um rebanho de bois…
Atrás um murmúrio silencioso…
Cobertas de cinza estão as lápides no cemitério.
Pancada a pancada
A hora soa como um negro abismo.
E nossa paz, embora tardia, aumenta no sono.
*
Soneto
espelho em que revi a minha imagem,
cujo reflexo mostra uma figura
do mesmo porte que eu, da mesma altura,
que, sendo real, torna-se miragem.
esse outro que segura uma bagagem
igual a mim, perplexo de aventura,
ao se ver refletido em tal postura,
reconhece a si próprio noutra margem.
nosso aspecto revela frente a frente
a dúvida, talvez, mais aparente,
entre as duas feições: quem eram? quem?
mas eu quem era, num espelho antigo?
a verdade ou a ficção que vem comigo?
o corpo ou a sombra, – um ser… talvez ninguém.
*
Tua pele
O céu da primeira manhã cobre
Tuas folhas
E cada folha nos braços luzidios parece
Estender-se até o fundo dos teus vales
De tomilho é o campo verdejante
De música a pele que te faz inteira
Tua pele faz música
Quando o amor permite a claridade,
Surgindo no carrossel das estrelas
Tua pele acaricia o fogo da noite
A vaguidão sem fim
Os nossos vestígios estão no verso de Paul Éluard
Que tremeluzem no coração enfurecido:
“Nosso amor é o amor da vida, o desprezo da morte”
Minha face irradiava essas palavras, tua mão
Escrevia na esperança do outono
Desta maneira, em mortal desespero, tua pele
Guardou o segredo mais importante
Nossa raiz crepita sob todas as árvores
*
Entrega
Ao amor
Me tenho dado
Por inteiro
Em liberdade
Fora das cadeias
Sou prisioneiro
De mãos atadas
Pés sentenciados
Ando em avenidas
Por todos os lados
Vigio minhas fugas
Com êxito
A esmo
Ao amor
Minha vida ofereço
Contra mim mesmo
*
À beira da claridade
Busco um poema de fogo
que lembre a sua vida.
Um fragmento inacabado,
mas algo de si:
esta sua vontade de viver, o rio de sua
aurora banhando a tristeza da face,
a sua persistência em descobrir a relva
nos muros. Um poema de fogo
que não seja a mera chama.
E que lembre a si, frutificando o sol
nas cordilheiras do mundo.
Como todo aço, a dor existe
para ser destruída. Breve! Logo em breve…
A pedra já retém novos caminhos. Todas
as flores anunciam novas pétalas.
O poema de fogo está crepitando
em suas mãos.