Cinco poemas de Celane Tomaz
Celane Tomaz (32) é professora de Língua Portuguesa e alfabetizadora da Prefeitura de São Paulo (SME -SP). Possui formação em Letras Português/ Inglês e pós-graduação em Literatura, ambas pela PUC-SP, cursou Pedagogia e é pós-graduanda em Gramática e Texto e Alfabetização e Letramento pela Universidade Anhembi Morumbi. Foi uma das poetas selecionadas para o curso livre de novos escritores da Casa das Rosas (CLIPE 2020 e 2021). Tem diversos poemas publicados em antologias e a publicação do seu primeiro livro de poemas ocorrerá em breve.
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sutura
remendos
em fendas abertas
sutura
em afoita fissura
retalhos-atalhos
respiro-restauro
ruína em reparos
– a agulha.
linha a linha
me componho
v e r s o a v e r s o
me costuro
a poesia
faz seu nó
no meu seio.
*
futuro
às vezes vem a mim
de corpo súbito
lampejo do futuro
é estranho
sinto o futuro
na realidade- víscera do piscar de olhos
na secura da garganta
no entusiasmo contradito na agonia
é insano
toco o futuro
na quentura da pele beirando a morte – viva –
na palpitação dormente
no dorso da lucidez
e prevejo o presente
como um passado compreendido
apenas um passado
que não corrompeu as entranhas.
*
.fluxos
memória de ser rio
margens só-
lidas em caminho desordenado
contorno do tempo, ero
são
sede de corpo
ex ten so mar salgado
a aridez da garganta
sede que suga a lágrima
ânsia de rasgar a carne com os dentes
fome que dilacera o estômago
– o fluxo corrosivo do não.
*
dedicatória
dedico-te um poema
pois te sei
decifrarás
com a fluidez
dos teus olhos de sempre.
tu que lês
olhos alheios
sorrisos
dúvidas
sutis espantos.
tu que vês com ternura
as faces das faces
ouve silêncios
compreende o caos
emudece meus medos.
mesmo as entrelinhas
serão para ti
o verbo-visível
capturado
o dito nu
escancarado.
dedico-te
em poucas palavras
já que tu
sem nenhuma
me lês.
*
[sem título]
penetro tua alma
minha nudez traz à vida tuas mortes
guardas o teu tesouro empoeirado
onde não sabes onde está(s)
teu sorriso
um plural de lágrima
o teu silêncio grita
enxame de palavras
teus olhos cegos
renegam a luz de repentina claridade
faz do teu limbo
terra fértil e crua
das tuas mordaças
linhas em chamas
e da tua vaidade
verdade sagrada
penetro tua alma
e nela cubro o teu desassossego
e à noite
quando tudo adormece
– o teu sono me beija.
Samara
orgulho ! sensacional ❤
CAROLTOMOi
Muito fã da Celane! E cada vez mais me sinto HONRADA por acompanhar seu DESABROCHAR com poeta