Cinco poemas de Eva Potiguar
Eva Potiguar é a identidade artística de Evanir Pinheiro. Escritora e poetisa, doutora em educação pela UFRN, membro da SPVA/RN e ALAMP, membro imortal da Academia de Letras e Artes do Brasil, da Seccional Campos de Goitacazes/RJ, membro da Academia de Letras e Artes de Lisboa/Portugal – NALAP, membro da Acádemie Luminescence de Letras, Artes e Ciência da França. Atua na área de formação de professores de Pedagogia e de Arte-educação. Suas principais publicações são, na poesia, Do casulo à borboleta e, na literatura infantil, Gatos diversos. Tem publicações em dezenas de antologias Recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, como ativista social pelas causas culturais e ecológicas do RN. Sua prática se expressa por meio de espetáculos e performances teatrais em saraus e recitais poéticos com produções líricas e lúdicas, especialmente, de caráter popular e indígena.
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Um corpo na calçada
Vi um corpo,
Que esqueceu a sua alma.
Um corpo na calçada,
Coberto de histórias de fel,
De coração caído,
Nas ruas da vida,
Sem cirandas de anel.
Meu olhar ardia,
Perante esse corpo carvão,
Consumido por chamas sociais,
Que queimaram sua juventude
E aniquilaram a sua paz.
Restou um corpo, um nada,
nada mais…
Um corpo sem redes sociais,
Que vive às custas
De restos de mortais,
De corpos apressados,
Transeuntes diários,
Atores ocupados,
Mercadores de vinténs,
“Cidadãos de bem”.
Ecoam as vozes da rua madrasta:
-Saia daí corpo moribundo!
-Some daqui nojo do mundo!
-Sai fora animal vagabundo!
-Morre de vez!
-Deixa esse corpo, essa calçada,
essa cidade, esse país…
Para que a vida na terra,
Siga feliz,
Sem tetos de cortesia,
Sem chão de afetos,
Nem olhar de simpatia.
*
Ser Professor
Ser Professor para mim
É uma coroa de espinhos
em que semeio um jardim
É fogo em minha veias
Compromisso de vidas
Entrelaçadas em teias
É queimar coisas velhas
Refazer trilhas e pontes
Romper abismos e pedras
É ser gaiola vazia
Coração arrebatado
Filho da sabedoria
*
Asas do coração
Meus olhos criaram asas
Voaram como águias
Percebi por trás das nuvens
Os segredos do meu coração
Descobri que há vida na escuridão
É lá que a luz inflama e incendeia
O fogo consome e ateia
Me refaço em vivas brasas
Queimo retalhos que me prendem
Domino forças que me rendem
Agora então, sou todo asas!!
*
Versos para meu Pai
Pai, rima com dor
Quando é canção de amor
Uma palavra tão simples
Uma função tão íngreme
Como ladeira de pedras
Perfumada de Flor
Não tenho rimas agora
Que cantem tuas
Mas soluços imersos
De saudades enrugadas
Da criança sem palavras
Que nas tardes esperava
O sorriso que lhe abraçava
Noites com sabor de café
Dias com perfume de hortelã
Cobertor de esperança e fé
Tudo tão mágico a cada manhã
Levados nas teias do tempo
Trazidos pelos risos no ar
Meu pai sem rimas de ventos
É rocha que enfrenta o mar!!
*
Superação
Eu Sou aquela que foi enterrada viva,
Mas que não deixou morrer os seus sonhos.
Ressurgi das cinzas e redesenhei os meus planos.
Venci montanhas de Palavras secas
E fortaleci os meus ramos.
Hoje, sou árvore florida,
Enterrada na relva,
Coberta por flores do campo.