Cinco poemas de Fuzzil
Fuzzil é o pseudônimo de Levi de Souza, nascido em 27 de agosto de 1976, na cidade de São Paulo/SP. Filho de Edite Carvalho de Souza e Elio de Souza. Pai de uma linda menina de nome Shaira. Morador do bairro Capão Redondo, zona sul. Aos 17 anos, foi alfabetizado pela irmã mais velha. Trabalhou como manobrista, serralheiro, segurança, vendedor de água e refrigerante em frente aos estádios, ajudante de pedreiro, auxiliar de juventude pela prefeitura municipal de São Paulo e assistente administrativo. Tornou-se rapper e educador em projetos sociais. Passou a frequentar o Sarau por volta de 2005 e, em 2007, publica seu primeiro livro de poesia, Um presente para o gueto, editado pela Edições Toró. Ingressou no curso de letras da UNIBAN. Em 2010, lançou seu segundo livro, Caturra, pelo selo Elo da Corrente Edições e, em 2013, publicou o terceiro: Céu de agosto pela A.P.L (Academia Periférica de Letras), também pela A.P.L lançou em 2017 o livro Um abrigo contra a tempestade. Começou a escrever seus primeiros versos em 2000 e publicava em fanzine, realizou oficinas de poesia com crianças e adolescentes em várias ONGs, trabalhou com Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducacional, em meio aberto (Liberdade Assistida e Prestação à Comunidade) no Parque Fernanda. Desenvolveu alguns trabalhos na Fundação Cafu e Fundação Casa (Raposo Tavares). É Idealizador do Projeto MAGOMA, integrante do grupo musical DOIspONTOZERO, dirigiu o documentário Valo Velho direto. Também é fundador da marca de roupas “Deeanto”, que trabalha com a temática afro e criador e presidente da A.P.L (Academia Periférica de Letras). Contato: http://www.fuzzil.blogspot.com/fuzzil@bol.com.br/ Fanpage: https://www.facebook.com/poetafuzzil
***
REVOLTA
Revolta!
Revolta!
Revolta!
Rê, volta
porque
te
Amo.
*
FACULDADE
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
Fiz letra de samba,
Letra de rap,
Letra de forma,
Letra de mão,
Letra de pixo,
Letra de grafite.
Fiz histórias nas ruas!
Contei histórias da vida,
Histórias de manos e minas,
Histórias do cotidiano…
Histórias de miliano,
Histórias verídicas.
Andei pelos guetos, becos,
Observei os terrenos baldios,
Construí poemas de madeira,
Barracos de papel.
Observei os arranhas céus
Os córregos poluídos.
Minha faculdade é a rua!
Formei-me em Letras,
História e Geografia.
*
VERDES QUE NÃO VEJO
Que jardins são esses…
Que não vejo?
Jardim das Rosas, Jardim Irene
Jardim Castro Alves, Jardim Vazame
Jardim Selma, Monte Azul
São Bernardo, Campo Belo,
Jardim Santo Eduardo, Imbé
Jardim Comercial, Dom José
Que jardins são esses que não vejo…
Cadê o verde, os pássaros a cantar
Cadê o jardim que não vejo
Cadê o jardim, onde está?
Vejo becos e vielas
Barracos amontoados
Crianças brincando descalças…
Crianças brincando de barro
E o verde natureza
Parques que não existem
Parque Fernanda, Santo Antônio
Parque Ipê, Arariba
Parque Dom Pedro, Pirajussara
Parque do Lago, Novo Mundo
Que parques são esses que não vejo…
Oh! Qual seria o meu desejo
De sentir o cheiro do verde no ar
Cadê o parque que não vejo
Cadê o parque, onde está?
*
RESISTÊNCIA
Meu poema é ousado
Sou guerreiro de Palmares
Faço parte deste quilombo
Sou um negro em liberdade
Sou a voz que não se cala
Sou o eco da senzala
Sou a flecha no caminho
A chama que não se apaga
Sou filho escravizado
Sangue, suor e lágrima
Oriundo da mãe África
Sou Enilda, Benedita e Anastácia
Sou o Afrika Bambaataa
Acredito no que faço
Sou Lumumba, Ganga Zumba
Evaristo e Nelson Maca
Sou Junior Black Power
Posse Mente até a alma
Sou King, Malcolm X
Sou a revolta da chibata
Sou Osvaldo de Camargo
Sou Cuti, Clementina
Sou Dandara, Ivone Lara
Elizandra e Pixinguinha
Sou Zumbi, Grande Otelo
Jovelina Pérola Negra
Sou Curtis Brown, James Brown
Sou Nelson Mandela
Sou Ângela Davis
Marcos Murimbal
Sou Solano Trindade
Mumia Abu-Jamal
Sou 20 de Novembro
Negro em movimento
Sou aquele sofredor
Lutando por meus direitos
Sou Thaide, Mano Brown
Paula Lima, Negro Rauls
Jofrinho Fúria Negra
Sou um golpe fatal
Sou Akins, João do Pulo
Carnaval, Capoeira
Sou GOG, Preto Ghóez
Sou Resistência Negra.
*
LICENÇA PRA CHEGAR
Peço licença pra chegar
E disparar rajadas
De palavras positivas
Pra toda rapaziada.
Minh’arma é o microfone
Papel e caneta
Livros, conhecimento
O Caturra, a bereta.
A quadrada é o presente
Poesias para o gueto
Meus versos estão nos becos
São pros pobres, brancos e preto.
O arsenal está em casa
Prateleiras lotadas
Guerrilheiros, fuzileiros
Sentinelas na calada.
A granada é o sarau
Que explode em alegria
Transforma o ser humano
Cicatriza a ferida.
Isso aqui é minha vida
O que faço é por amor
Tantas coisas aconteceram
Não sou de guardar rancor.
Sei quem desacreditou
E não vestiu a camisa
Mas sigo passo a passo
Declamando poesia.
Na Quebrada ou mesmo fora
Vielas e escolas
O Fuzzil aqui não mata
Já disse em outrora.
Academia Periférica
Bibliotecas de mil grau
Ontem litros, hoje livros
Palavras de Michel.
O Elo sempre foi forte
Sentimento verdadeiro
Axé para todas…
As guerreiras e os guerreiros.