Cinco Poemas de Gi Proença
Giovana Proença é taubateana e estuda Letras na FFLCH-USP. Atua como editora de literatura do suplemento cultural Frentes Versos. Publica contos em revistas literárias e se arrisca na poesia.
***
1.
Era apenas uma menina
Tesoura na mão esquerda
Media com o olhar decidido
Os cabelos escuros
Caíam, caíam ocultando o rosto
O leve espanto frente ao espelho:
Um olhar sobre a dor
Desolação de muitas outras
Aos vinte e poucos anos
Esqueceu a menina
Outra face dela própria
Que encarava no espelho
Contou os dedos
Nos longos cabelos
Ergueu a tesoura
Poderia ter acertado
O pulso onde a veia
Era vulnerável
Mas desviou para as pontas
A ponta da tesoura
Nas pontas do cabelo
E caíam como folhas
Outono ébano no chão
Resvalo no piso branco
Os fios marcados
Pelo afago digital
Única coisa que ele
Deixara ao ir
Já não faziam
Parte dela
Parada
As mechas de cabelo aos pés
A tesoura na mão
O olhar vazio do desabitado
Em um piscar
Abre espaço a selvageria
Era uma mulher
Cabelo no ombro.
*
2.
Esperança é pássaro que rodopia
Na propulsão da asa compõe sua acrobacia
Cai na espera como equilibrista mal sucedido
Tentações mundanas em pecado
Abatido por um só tiro de chumbo
*
3.
Sacadas, limite do ser
Entre ficar ou cair
Como folha seca
Que valsa ao sucumbir
*
4.
Tantos passam a vida a admirar
A imensidão resplandecente do céu
O azul aberto não sabe-se de que matéria.
São os que vivem a caminhar olhando para cima
Mas eu levo meu andar no olhar baixo
Minha paisagem
É a altiva grama verde
Adornadas por suas folhas
Nesse solo não há estrelas
Só nascem sementes.
*
5.
Convite para um café
Numa tarde de agosto
O cheiro de lavanda
Prefiro chá, como seu
Perfume de flores orientais
Me rendi
Hoje
Somos só eu
E as xícaras sujas
ROZANA gASTALDI cOMINAL
Maravilhada com seus poemas! Parabéns!