Cinco poemas de Giovana Proença
Giovana Proença é taubateana e estuda Letras na FFLCH-USP. É editora de ficção da Revista Fina. Atuou como editora de literatura, curadora de ficção e colunista no suplemento cultural Frentes Versos, com ênfase em crítica literária. Publica contos e poemas em revistas literárias e antologias
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1.
Muito mais são as coisas
quando me olha sobre a mesa
Encontro após andanças do dia
intimidade noturna do diálogo
Nossa língua particular
que traduz o reencontro
2. Cômodo
Me deito no sofá mal acolchoado
num canto esquecido de seus
devaneios passados
Você transita intransigente
entre as camisas no armário
o doce de leite na geladeira
uma estação no horizonte
para qual perdemos o último trem
Sus imagem enquadrada
na porta dos colapsos tempos
simultaneamente inexistentes
Resultante: me agarro a ausência
3.
Meia noite moça na sacada
Devaneia sobre a paixão
Por ventura mal aventurada
Uma hora e roda o vento
Traz no ar afago
Brisa leve do amante de outrora
No tormento que graceja
Permeando a quimera e
Perseguindo os sonhos
Rumo ao romance despedaçado
Puxando pétalas da rosa uma a uma
Num mal me quer sem confirmação
Fixa a ideia que a dor cria asas
E pode voar em direção
Conhecida rota de estrada
Pela qual segue o desfortúnio
No desejo é dever
atirar-se ao encontro.
4.
Silêncio que toca na vitrola
rodar elegante do disco
tirando-te para dançar
no lento ritmo característico
desse jogo mudo
No olhar gravador de lápide
enterramos as palavras que
insistem em escoar
5. Prólogo
Atenção ao terceiro sinal:
Em todas minhas performances
Você está em cada ato
Altivo corpo flexível
Meu par em cena
As luzes se apagam:
Atuamos rígidos e esquivos
A peça saiu de cartaz:
Não compartilhamos como protagonistas
Entretanto, te espero coadjuvante
Cruzando palco, te vejo de soslaio
Monólogo: escorre uma lágrima
Te quero espectador enquanto
Em cena arranco aplausos
Fecham-se as cortinas:
De onde por agora dis
tante te vejo encenando.