Cinco poemas de Guiniver Santos de Souza Ferreira
Guiniver Santos de Souza Ferreira é graduada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo em 2001, com Licenciatura e Habilitação em Artes Plásticas, hoje Artes Visuais. Professora na Rede Pública Municipal de São Paulo desde 2002, hoje atuando como professora de arte na EJA – modalidade CIEJA no Bairro de Perus. Professora de arte voluntária de cursos comunitários da UNEAFRO no Pólo Quilombaque Perus. Atua também como arte educadora tratando de questões étnico-raciais com crianças jovens e adolescentes em contações de história, oficinas de criação literária, manifestações culturais com música e dança em instituições públicas e privadas. Participa desde 2014 do coletivo literário Sarau Elo da Corrente, na Região Noroeste do Bairro de Pirituba. Seu primeiro livro de poesia, Infinito Rubro-Carmim, está sendo realizado sob a supervisão e a avaliação dos Fundadores do Sarau Elo da Corrente.
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Nós, Yemanjá e o Mar
Densa espuma branca espalhando desejos,
Brisa soprando lenta nossos revezes…
Tarde chegando turva de Neblina,
Brisa de Maresia soltando meus cachos…
O Mar lambe faceiro meus pés,
Na memória um cântico pras águas,
Lembranças…
Horizonte molhado de chuva maneira,
Tua voz sussurrando lisonjas de amor,
Permaneço calada me forjando Sereia,
Em rede puxada de tua maré…
Me embala este canto de Tu Odoyá!
Me deito na areia e sinto girar,
Me calo sorrindo na tua presença,
Na força das águas leve a flutuar…
Preguiça queixosa de Tu óh Sereia!
Maré mansa rolando pra praia banhar…
Preenche… me invade… minh’ alma vagueia,
Adentro tuas águas Óh Mãe Bela e Plena…
Me enche de amor o perfume do mar!
*
Very Important Person
Anjo, Textura e Ternura
Sob as linhas de tua tez escura
Descalça e Nua
Despida de toda dor
Suas mãos tão minhas
Buscando meus prazeres, revelando segredos teus
Minha pele na tua, tom sobre tom
Imprimindo em minh’alma teu marrom
Teu cheiro doce exalando
Misturado no meu
Intensa sensação de Paraíso
Gemidos suados, pedaço de Céu
Maroto me toma em teu colo
E se foge ao apelo do meu olhar
Aceito teu peito, seu toque
Ajeito minha fúria incessante
Na tua ardente ânsia de paz!
Juro que queria ficar
Naquele dia, noutros mais…
*
Na minha leitura
Estive contigo tantas vezes em intenção e pensamento…
Nos meus inesperados calores noturnos…
No deleite dos meus banhos demorados…
Nas aventuras cármicas e cósmicas dos nossos encontros astrais…
Estive contigo tantas vezes em intenção e pensamento…
No encontro e desencontro dos nossos olhares…
Nos silêncios das nossas leituras de aura e energia…
Na sinergia…
Estive contigo tantas vezes em intenção e pensamento…
No “conjugar” dos verbos, no limiar dos versos…
Na insanidade de imaginar-nos nus…
Na audácia do sentimento cru…
Então tua Presença é agora deliciosamente Surreal.
Parei com poesias tristes… Eu já li você!
*
Resposta
Meu canto animando
O que antes foi pranto
Ao som dos teus tambores
Renasci e me encontrei!
Xangô Kaô Kabecilê!
A justiça no olhar
A integridade sonora e ruidosa
É chão, certeza e Luta!
Mãos hábeis a tocar, ecoar
Ogunhê, Guerreiro nobre de Ogum!
Semblante sisudo, muito riso dentro
A pureza pulsando no tato, no toque dos couros
Olhar infância, pedindo Clemência…
Coração percutindo notas de recomeço!
Epá Bàbá! Pacificação de Oxalá…
*
Rubro
Esse vermelho,
Líquido,
Marcante.
No paladar
além do carmim
Segredos
Tin tin
O Brinde…
Sorvendo desejos
Calando mistérios
Aroma, vários
Deleite, delícias
Rubor, quentura
Rubra seleta
Vinhedos.
A pele os pelos.
Malícia num só gole
O acre do teu prazer
No ocre do meu sagrado feminino
Rubro,
Carmim,
Magenta…
*In vino veritas est
*Caio Plínio – filósofo