Cinco poemas de Gusthavo Gonçalves Roxo
Gusthavo Gonçalves Roxo nasceu em 1996 no Rio de Janeiro, é estudante de Museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, publicou seu primeiro livro Chá de Girassóis em 2019 de forma independente. Sua poesia raramente é planejada, a maioria dos poemas tem uma grande carga emocional, escritos em poucos instantes e com poucas mudanças posteriores, carregam a sinceridade da vida, de suas dúvidas e certezas em cada momento que passamos.
Instagram: @goncalvesroxo.
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Cada um tem um
Eu queria sair
Aproveitar o sol
Mas a cama com música calma
Prendem minha alma
Cansada
Triste
Que precisa relaxar
Queria estar fotografando o mundo
Queria estar deitado numa grama
Mas estou enrolado num lençol
Num quarto fechado
Ouvindo uma música sobre qualquer madeira
É um dia triste
Não por algo exato
É o coração que não tá contente
Que esperava mais do brilho
Que até agora, ao menos por esses dias
Só ensinou opostos aos sorrisos
Simpáticos
Apáticos
Cansados
De deitar em uma cama
Sem sorrir por algo que não seja luz.
*
Amiga da amiga da amiga de uma amiga minha
Ela é a menina de sorriso de deusa
Rainha do olhar das mil memórias
Amante das mais belas películas
Militante da mais nobre das causas
Alegria de corredores frios
Como podes não lembrar dela?
Ela estava lá no dia que choramos
Abraçou conosco o museu nacional
Ela estava lá quando caminhamos da urca ao catete
A fotografei diversas vezes
Ela estava ao meu lado
Quando chorei e pensei que ninguém viu.
Ainda não trocamos muitas palavras
Mas quem sabe
Trocaremos nossas luas
Ou até enviemos cartas para o coração do outro
Podemos namorar debaixo de uma figueira
E talvez construir um mirante de bambu
Para ver todos que chegam
Por detrás dos pés de arroz
Que ela irá plantar
Onde hoje ainda nascem
Apenas plantas de quais ninguém lembra o nome.
Lá perto donde te conheci
Entre a rua das novidades
E a avenida do desconhecido.
*
Uma carta
Não é a Torre
Não é a Morte
Não é a Roda
É a mão que sobe da terra
É o fruto do tempo
Grito do passado
Esperança do futuro
Sentimento presente
Que rompe com a imagem
Inerte, de uma figura
Que diz por muitas formas
Fala por muitas histórias
Sente muito, para um coração pequeno.
*
Desde que o samba é samba
Memória é luta
Respeito é dignidade
Solidão não é solitude
É a consequência do mundo doente
Lembrar não é esquecer
Xingar racista não é intolerância
Se afastar de racista não é extremo
Ouvir violência é cruel
Ver dor virar piada
Foto curtida no insta
Isso sim é tragédia
O povo que não lembra,
Ceifa-se a si mesmo.
*
Primeira Noite
Garrafas na mão
Lua cheia atrás da Igreja
Bares por todo lado
Gente jovem
Muitos sotaques
É um copo de plástico com vinho
Que aquece as veias
Na fria última noite de outono
É o álcool no sangue
A gratidão por estar ali
Que me faz gritar
Exaltando a vida
A partir da imagem da lua
Cheia
Gigante
Azul.