Cinco poemas de Iatamyra Rocha Freire
Iatamyra Rocha Freire, mulher negra, natural de Natal RN, 50 anos, mãe, avó, dona de casa, foi professora de ballet clássico para crianças, fez curso técnico de música clássica (flauta doce, solfejo, teoria) pela EMUFRN, é ativista ambiental, e sociocultural, criadora do projeto cultural “Picnic Corpo e Mente”, já na terceira edição, é poeta, participou da antologia Controversos, pela editora Sapere RJ, dos Versos enredados, pela editora Vidráguas, do livro Família Reginaldo, história, e genealogia, pela liga operária da cidade de Mossoró RN, é integrante do coletivo Mulherio das letras Natal Zila Mamede, participou da Folha poética especial Mulherio das letras, escreve desde criança, e permeia com seus versos a rede mundial de computadores, há quase duas décadas, ainda mantém alguns blogs, mas é nas redes sociais que escreve seus poemas e haicais diariamente, ainda é poeta não publicada, no momento está em pleno processo de construção do seu primeiro livro solo.
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Sem tempo
relógio fixo na parede
relendo horas do avesso
enquanto sede quântica
antigo pêndulo de cobre estático
descobre seu maquinário binário
dia fatídico ainda sem nomenclatura no dicionário
hoje sem tempo
vento sopra folhas verdes
relendo o avesso das nervuras
enquanto figura de linguagem.
*
Falta força à rima
(eu analiso)
falta encaixe mais preciso
um grito talvez no poema
diga todo o engasgo
visceral seria
encheria os pulmões
preencheria o oco do olho dos furacões
diria
Ah… Diria!
eu aqui com meus botões
imagino
um soco
um desatino
poema gritante
diria “O grito” de Munch
na terra de Dante
pinceladas de versos fortes
norteando o coração
que feito música de Arnaldo Antunes
não bate
e nem apanha.
*
Catar conchas com as mãos calejadas
prenúncio de corte
maré baixa
tateio o desenho na pedra
cor de rosa
madrepérola no olhar
casa bonita da ostra
solta do lar.
*
Não sou espalhafatosa
discrição é meu lema
no cabelo só uma rosa
no anelar uma gema
Assim subi o altar
negra de branco
mulata
farta
Fiz o atabaque cantar
até alta horas
e a rosa intacta
de flora exuberante
Rezar um credo
depois da cerimônia
foi segredo
uso de parcimônia
beligerante
A festa durou uma lua
depois pele dourada
nua
descalça na estrada
casa adornada
a mais bela da rua
o noivo de espada de prata
é rio
é mar
estuário da mata
homem de morrer de amar
sou mulata farta
negra.
*
Flor de bonsai
caule retorcido
sopro ardente.