Cinco poemas de Jansen Hinkel
Jansen Hinkel nasceu em 1989, na cidade de Capinzal, interior de Santa Catarina. Formou-se em Cinema e mora em São Paulo desde 2015. Atualmente desenvolve sua pesquisa de doutorado em Comunicação Audiovisual. Autor do livro de poemas Paragrafias (Patuá, 2020), sua primeira publicação.
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TÚMULO
A respiração está lenta,
como se o coração,
quisesse certo descanso
na areia do sono.
Separei palavras,
para escrever versos
como uma lista:
desisti da ideia,
o vento da noite
a perfilar o cachecol
e arrepiar o pescoço
me fez querer
livre comunicação.
Então o ar
tornou-se estéril
infestado de um remendo
poluído
de pesadelos:
como se pedra velha
insistisse
em passar por frestas
das vias do assopro.
Traço, colisão e faísca,
vaga é a cova
no crivo da terra
e a inscrição
na lápide
não chegou às nuvens:
rastro, ao invés de levitação.
*
PERDÃO
Todo perdão
é desnecessário:
uma satisfação rasteira,
tormenta inacessível,
álgebra atravessada
e falsa
com contas esquecidas.
Perdoar não é divino,
machuca,
lhe torna um risco à crítica,
lhe enfraquece a lente
que outrora lhe deu acesso
ao reconhecimento
e anúncio
das tormentas
do seu corpo e mente.
Perdoar é uma mentira,
milenar.
*
REFUGIAR-SE
O feixe espesso
rasga
em horários distintos
fronteiras
onde peixes
morrem
na fuga:
nascer ali
é uma roleta russa.
*
ACIDENTE
Ao subir a montanha
caí duma rocha
dos ferimentos dos dedos
dos dentes quebrados
e dos olhos quase cegos,
o sol
foi meu relógio.
*
IR
A despedida é o sal
jogado ao corte
fino
da pele:
o junto se acaba
a moradia some
e a dança encerra.