Cinco poemas de Jean Narciso Bispo Moura
Jean Narciso Bispo Moura é poeta, autor de 6 (seis) livros de poemas, o mais recente “Retratos imateriais” (2017); é também licenciado em ciências humanas, editor responsável pela Literatura e Fechadura – Revista Digital. Estreou em livro no início dos anos 2000, com o título A lupa e a sensibilidade, também é autor de 75 ossos para um esqueleto poético (2005); Excursão incógnita (2008); Memórias secas de um aqualouco e outros poemas (2010) e Psicologia do efêmero (2011).
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fogo na inocência
ateie fogo na inocência
as letras da imprensa
são como um cadáver aberto
o embalsamador
transpira pela palma das mãos
o cheiro adesivo da notícia
as narinas limpas
sentem um constrangedor
suor econômico
cobrindo todo o cadáver
*
Zíper
a palavra e o seu zíper
puxado pelo olhar insistente
exibe parte
de uma intimidade
para outros
ela arria
toda calça
*
Gosto pelo infinito
abanar o incêndio
o gosto
pelo infinito
voar
nas asas de um louva-a-deus
*
Alvorada
abrir
a tua cabeça
com sentimento
de alvorada
inculco
nos olhos-lâmina
um sentimento
de legista
meu alvo é abrir
a tua cabeça
tirar do buquê
uma motosserra
achar em ti treva ou clareira
*
Polinização
nave em naufrágio
mesa sem apostadores
um alto falante
blefa
esquimós comem esquilos
nos galhos da imaginação
em dança erótica
a razão
espera pelo polinizador
apostadores em nave naufragada
veem esquimós comendo
os seus imaginados esquilos
pela metade
a razão monogâmica
descamba
descamba
descamba
a sua bainha florida
chama as pássaras e pássaros
dos arredores
os seus dedos, línguas e sóis