Cinco poemas de José Carlos de Souza
José Carlos de Souza: “sou poeta e letrista. Vivo entre o tédio e o carnaval. Passeio pelo surreal. alma anarquista. Vez por outra zen, quase sempre ‘dada’. Surto ao leve toque do banal, curto o som das estrelas e o ruído dos planetas. Prefiro o sal do mistério, o sol de Glauber. o graal panteísta”.
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(desalinho)
os segredos das marés
ressoam na praia
onde pés e barcos encalham
com estrelas nos olhos
e o céu nos cabelos
vejo o sol naufragar no horizonte
agora é a noite
que alimenta o caos
*
(na liturgia…)
na liturgia do mar
sargarços são rendas
no revés das águas
os barcos carregam os rios
*
(dos jardins de Platão aos covis de Pandora)
a lua brilha no céu
sem precisar de modelo
o gato brinca ao léu
fazendo do rabo novelo
quando o poema destila canção
o coração é quem dita o jogo
mas nos jardins de Platão
o amor é pássaro de fogo
pulo do sonho de outrora
rasgo a súmula da razão
vivo nos covis de Pandora
entre a esperança e a ilusão
solto de corda e canga
tirei as cartas da manga
(voou perfume e flor)
*
(caminhos sem volta)
nada de atavios demodê
ou fios de infinitos degradês
no tecido espiritual do firmamento
os ventos sacodem o sol
e as estrelas viajam
caminhos sem volta
*
(versos gravados na pele)
canções tiradas no realejo
dança que faz o mundo girar
versos gravados na pele
poemas suspensos no ar
olhos refletem galáxias
imagens de um mundo distante
céu de ricas plumagens
estrelas cravadas no chão
noite acesa em perfumes
beijo com sabor de luar