Cinco poemas de Julia Pantin
Julia Pantin cursa economia na Unicamp, mas flerta sempre com as artes, seja a aquarela ou poesia. Está começando a fazer ganhar forma as ideias e as imagens poéticas. Na vida, o subjetivo, o belo, o singular e o múltiplo.
***
i.
Penso as consequências
Econômicas
Do não repirar.
Abafo um grito
– Sai de mim como uma bolha
Isolada no próprio ar
Procurando formas de chegar
A outras bolhas
Ao mar
*
ii.
É pequeno e sem forma visível
As palavras que não ressoam como
Na acústica de estar envolta
Com outros.
Suprimo as águas
E contemplo a raiva, a tristeza
A ausência de tempo
As margens que calam
E findam
*
iii.
De repente rio um riso
Incontido, forte, súbito
Como um rio
Que quisesse por fim
-e acima de tudo
Fazer desaguar-me
Mar de lágrimas e raiva misto
Sem margens
Que é pra não induzir
A crise respiratórias dos peixes
Em bolhas.
*
iv.
Senti a contradição
E a fragilidade que infecta
Como gotícula
Sobre o oceano
Procuro curar-me
Da dor de cabeça, a enxaqueca
A sensação impotente de ser um aquário
Fechado onde peixe nenhum
Pode respirar
*
v.
Acordo assustada
Começo a andar
Cai um pingo de chuva
Saudo-a com a lembrança do que é
– É sempre mais frágil o peixe que esquece
Que as palavras são feitas de água.
E por isso mesmo correm ao mar
Independentemente das possibilidades
Econômicas de trocar o ar comum.