Cinco poemas de Leonardo Bachiega
Leonardo Bachiega é poeta, dramaturgo, arquiteto e urbanista, pós-graduado em Barcelona – Espanha. Nasceu em 1980 na cidade de São Paulo – Brasil, onde mora hoje. É autor de Poema Número Um (2016), seu livro de estreia, e A cidade desabotoada (2018), ambos publicados em Portugal. Seu terceiro livro de poesia, será publicado este ano 2019. Tem poemas publicados em diversas revistas literárias como InComunidade, Alagunas, Garupa, Amaité, Diversos Afins, Literatura e Fechadura, Mallarmargens, Gazeta da Poesia Inédita e Vício Velho.
E – mail: leonardo.bachiega@gmail.com.
Instagram: @lbachiega.
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você ainda não leu os ossos
o chão é sério
formigas rasuram de tanto trabalhar
a cortina parece um fole
se o ar tem uma caixa harmônica
e um tórax
se você desalinhar a métrica
você diminuirá a saudade
*
eu não quis fazer você chorar
sombras têm
recortado das pedras
equilíbrio e estruturas habitáveis
se demorasse o junco
o mundo não iria acontecer
eu mudaria seu nome de juventude
para memória
*
uma janela de povoados e lentidão
tenho a respiração clareada
como se não precisasse de penínsulas
o tempo fez meu coração pegar
o formato das baías
por isso
vivo radiografando o rosto maduro do litoral
uma vez pisei o silêncio
descobri que amar não é mais um assoalho
é apenas este lugar
esquisito
*
quando o exílio e a surpresa
1.
gosto quando a cidade,,,
se transforma num escarcéu
…habitá-la é o comovido movimento
dos morcegos explorando o bambuzal…
,,,as luzes do farol se engancham
na abstração…
e pedreiros vestidos de guindastes
convidam as aeronaves
gosto dos carros quando…
,,,parecem golfinhos nadando e outras vozes
gosto quando as coisas,,,
magoam uma nova coisa
…e rasteiam
novos e anônimos
quando da última cela…
,,,se estranha uma rachadura
e diz olá a ela pela primeira vez
*
29.
a cidade brota,,,
de um navio ancorado no deserto
o murmúrio que ele tem
a areia fina de um refrão antigo….
a sorte de desenterrar o bilhete premiado
,,,teus olhos sangrando desabitado
que alguém duvidava