Cinco poemas de Luque Barbosa
Luque Barbosa é um poeta e escritor do Rio de Janeiro, Niterói, formado em publicidade e propaganda pela UFF. Com forte influência da poesia tradicional, o autor procura explorar a perspectiva, simbologia, experiência, narrativa, estrutura, ritmo, rimas e a catarse em seus poemas. Dentre os temas mais abordados, estão o amor, a angústia, ansiedade, superação, esperança, a introspecção, bem como crítica políticas e sociais. Você pode me encontrar no Instagram: @luquebarbosa.luba e ler mais poemas e artigos no meu site pessoal.
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O Horizonte
O horizonte é o beijo
Do céu com o mar
Alumiado ao sol
Escondido ao luar
O horizonte é a soma
Igual ao nosso amar
A imensidão do céu
E a vastidão do mar
O horizonte é o ponto
O elo a nos atar
O mergulhar ao céu
No esvoaçar ao mar
Beijá-la é o horizonte
Que eu vivo a fitar
Do acordar do sol
À quietude do luar
*
Incômodo
Meu peito arde
De dentro a fora
Oculto alarde
Não vai embora
O foco some
Depois a paz
Em minha fome
Me afundo mais
A mão no peito
É seguir só
Não têm efeito
À dor, um nó
O meu desejo
É a mão tornar
Algo intangível
Pra me alentar
Eu te admiro
Só penso em ti
Mas não confiro
O mesmo em si
Desisto em dor
Como covarde
Por este amor
Meu peito arde
*
Toda a dor, todo o dia
Hoje, cheguei ao fim
Amanhã, um velho dia
Tenho vivido assim
Toda a dor, todo o dia
Dormir é meu refúgio
Ruíno ao pesadelo
Procuro algum indúlgio
Para minha alma em zelo
Acordar é lamentar
Toda hora pela frente
E em sede rastejar
A cada oásis vigente
Comer é não morrer
Minha algia é estendida
Em meu entre, a corroer
O meu pesar em vida
Vago no labirinto
Sem amor no meu guia
No coração, eu sinto
Toda a dor, todo o dia
*
Destino
No céu, brilha bela estrela
O mel trilha meu consorte
No alvéu, à escotilha, a vê-la
Ó bel! Me esmerilha a sorte!
Ao fim, distante ao meu lar
Em mim, constante, o vigor
De enfim, adiante escutar
O sim, inquietante ao ardor!
Eu só, indefeso, vou à fonte
De nó assaz teso à esperança
Sem dó, a algum peso que afronte
Ao pó, irei ileso à vingança!
Ao meu ansejo, reina a dúvida
Ao teu ensejo, o amedrontar
Ora eu prevejo morte súbita,
Ou meu desejo dar-se-á!
*
A Mão que Guia o Pano Branco
Eu sou branco, mas não sou racista
Não xingo de macaco, os “mulatos”
Pois “denigre” minha imagem altruísta
Um pano branco nos meus atos
Eu repudio os colonizadores
Escravidão? Dó dessa trajetória
Já dou salário e quartinho… Sem dores
Um pano branco nessa história
Muito tenho a discordar do nazismo
Kkk, só o meu riso ao digital
Votei 17 e não no fascismo
Um pano branco nesse mal
Não acredito na meritocracia
Na minha empresa tem diversidade
Mas eles devem fazer acrobacia
Um pano branco à desigualdade
Não julgo beleza à tonalidade
Até acho, alguns pretos, excessões
Os corpos que exalam sexualidade
Um pano branco nos padrões
Creio em Jesus Cristo, nosso salvador
Respeito a macumba, mas me dá ânsia
Sobre tudo a Exu, me alertou o pastor
Um pano branco à intolerância
Com as autoridades, são impacientes
Condenam-os por casos isolados
Cínicos, ignoram os precedentes
Um pano branco aos alvejados
O pano branco vem velar
Dos pretos, o sangue e as lágrimas
De novo, a mão alva há de sujar
Deixando-os por entre as lástimas
O pano branco vem limpar
Dos brancos, a culpa e o labéu
Mais uma vez, hão de sujar
Acobertando a mancha do réu
Tal qual os tijolos da supremacia
És tu, que ali sustenta-se, obsoleto
A sua mão que funde-se ao pano que guia
Pinta em branco, a existência do preto