Cinco poemas de Natália Agra
Natália Agra é poeta, editora e tradutora. Publicou os livros de poesia De repente a chuva (Corsário-Satã, 2017) e o Megamíni Fotogramas (o silêncio possível) (7Letras, 2019). Publicou, também em 2019, seu primeiro livro infantil Os balões de Nise, na coleção Coco de Roda, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. Edita, ao lado de Fabiano Calixto, Rodrigo Lobo Damasceno e Tiago Guilherme Pinheiro, a revista de poesia Meteöro. Organiza, com Emily Hozokawa, Fabiano Calixto e Tiago Marchesano, a Desvairada – Feira de Poesia de São Paulo, que acontece anualmente na capital paulista. Seu novo livro de poemas Noite de São João será lançado em junho.
Os cinco poemas abaixo sairão no Noite de São João (Corsário-Satã), meu mais recente livro de poemas, que será lançado agora em junho.
*
Noite de São João
Para Emanuella Helena, que se foi cedo demais (in memoriam)
Yesterday the sky was you
And I still feel the same
Billy Corgan
permanecemos aqui
anestesiados de imenso
frio nesta noite de São João
regressamos pela manhã
lareira ainda quente
aquecida pelo canto da cotovia
muito de nós dois
pelos cantos fechados da casa
o quarto vazio e seus brinquedos
enquanto você esteve aqui
ocupou com pequenas palavras
as borboletas
*
Pavana para minha irmã morta
assim vives em mim, irmã, singela
pulsas em mim como a visão mais bela
entre rosas sepultas e queridas.
Orides Fontela
definimos nossos caminhos em silêncio
(passo a passo)
no caleidoscópio
tropeçamos
no orvalho veloz da tua ausência
contemplamos
cresceram sobre ela quatro pétalas
*
Alejandra Pizarnik
teu nome, impossível primavera
canta furioso
com uma só pétala
a música que toca a pele úmida,
ausência
repousa nas mãos das nuvens
teu corpo
sobre a água
apenas teu nome
emana
flores
flora
cornucópia
*
Augúrios
Para W. B. Yeats
o mundo não está mais em bom estado
cada um enterra o que é seu
cada morte escolhida
oculta o restante
nem as prateadas maçãs da lua
ou as douradas maçãs do sol
sobrevivem ao mistério inquietante
o mistério no pouso do corvo
a floresta desesperada de sangue
a flauta, onde, na densa fumaça,
flutuam seus ossos
no acaso longo da vida
nada pode impedir
o perigo do agora
mesmo que tudo,
de algum modo,
tenha um espectro trágico
calo os tempos difíceis
com a mesma nuvem
que resiste à violência
*
O sétimo selo
lá está a morte
reconheço seus ossos