Cinco poemas de Nina Maria
Nina Maria é natural de Santo Estevão, Bahia, 19 anos. Graduanda em Letras Vernáculas com Língua Francesa pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS/BA, tem a poesia como essência e guia de vida, sendo introduzida a este universo desde muito cedo, por influência de sua família e pelo incentivo de seus professores, principalmente no curso pré-vestibular Universidade Para Todos – UPT-SEC/PROEX/UEFS, financiador e estimulador máximo do seu processo de escrita. “O caminhar com os livros e a poesia é saber que nunca se está sozinha”.
Os poemas abaixo integram A Flor da Pele, livro de estreia da autora.
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A cor da terra
Veja a cor do meu sangue
vermelho
descendo de encantos e lamentos,
descendo entre minhas pernas.
É o inicio da vida
É o líquido da morte
Veja meu sangue,
escorrendo entre meus pulsos
para dizer que não mais vivo,
sobrevivo.
Neste mar de sangue
Tanto se foi jorrado
desde navios negreiros
à bala perdida na favela.
Veja as lágrimas de sangue
da mãe agonizada
com seu filho nos braços.
*
Construção
Não quero ser compreendida
Tão pouco notada
quero ser respeitada
viver meus versos
vestir minhas rimas
sem medo
sem amarras
Não me limite!
Não me defina
Sou um amontoado de poemas em construção.
*
Girassol
Ei girassol
Aguenta mais um pouco, promete para mim? Promete para si?
Lembra-te que tu é luz
E mesmo que todas as pétalas caiam importante é manter o caule de pé,
A raiz fixada nos teus sonhos.
Ei girassol
Tu hás de renascer, deixe-me cuidar de ti.
Prometo te plantar, regar e (a)colher.
Esquece o Sol, gira por si.
Tu és importante girassol.
E nada mais importa além de ti.
Você sempre será luz na vida de quem passar.
É difícil acreditar, mas olha tuas pétalas.
O brilho que esconde todas as cicatrizes, tornando-as perfeitas imperfeições.
Girassol, tu não pode ir.
Não desiste não.
Deixa-me regar com todo meu amor, você merece.
Mesmo que discorde e se volte contra mim
Hei de admirar-te e chamar-te de lar.
Pois tu girassol, é luz.
*
Transformação
O ato de escrever
Rasga-me a carne
Expõe todos os meus órgãos e ossos.
Fico nua!
As palavras despem minha alma
Estou entre o ser e o não ser,
nas entrelinhas, sou sentida.
Quando a carne é rasgada
começa meu projeto poesia.
*
Última dança
Quando o silêncio perpetra meu corpo
Sinto tudo à flor da pele.
Lançada a escuridão,
À mercê da minha própria solidão.
Qualquer grito assusta-me,
Qualquer toque torna-se arranhão
Deixando-me em carne viva
E ali fico…
Sozinha dançando no compasso dos meus batimentos
Tão lento tão rápido.
A música mais triste me faz bailar como se fosse à última vez
Recordo-me de tudo que vi,
Tudo que não fiz
A música para
Ouço gargalhadas do passado
E volto para escuridão
Deito no colo da solidão
Até adormecer profundamente