Cinco poemas de Nina Maria
Nina Maria. Mulher nordestina, baiana arretada de Santo Estevão. Escreve desde sua pré-adolescência no intuito de enxergar e fazer um novo mundo. Com 18 anos e ensino médio completo, apaixonada por girassóis, literatura e música popular brasileira, sua escrita percorre desde os campos gregos ao berço africano.
***
Escrevo
Mas, por que escrevo?
E se escrevo, o quero dizer?
Alguém me escuta?
Alguém lê corretamente? Nas Entrelinhas?
TEM ALGUÉM AÍ?
Escrevo
No mais, continuarei a escrever.
Ainda que me faltem palavras e situações
Escrevo para escutar a minha própria voz
E quando escrevo, sei que há esperança.
Esperança de ser quem eu sou.
E você, sabe quem é?
*
Marés de Marielle
Maré alta
Negra, favelada,
Empoderada.
[Orgulho de ser quem é]
Maré baixa
Silenciada, assassinada,
Executada.
Quatro balas
Vida ceifada
Tua morte
Tua luta
Mais uma embarcação naufragada.
Meses, dias
Horas e segundos
Silêncio.
Quem matou?
Quem mandou matar?
Marielle PRESENTE
Nas ondas do mar.
(Poema publicado pela Editora Ser Poeta em prol da consciência Negra e em homenagem a Marielle Franco).
*
Meia lua
[A iluminar]
Meio beijo
[A conectar]
Desejo ardente
Se faz presente
Entre corpos eloquentes.
*
O poema não quer sair
Palavras desencaixadas,
Desordenadas, desajustadas.
Soltas em papel,
Contidas na língua,
O poema não quer existir.
Em meu olhar
Palavras não ditas
Transbordam feito rio.
Dias de chuvas são necessários
Mas hoje?… O poema não quer sair.
*
Escuridão que afoga meu ser
Dedilho palavras à tua espera
Vens?
Convite inaudível ao teu querer
Nosso gozo perdeu-se nos teus sentidos
Como naquela tempestade
Em que fizemos ruídos.
Ao passar da chuva
Entrecortando o raiar do dia:
Sou rio perene a nascer sozinha.