Cinco poemas de Pedro Cruz Aguiar
Pedro Cruz de Aguiar, nascido em 1996, é nativo da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Graduado em Letras: Português-Latim (UERJ) e mestrando em Literatura Portuguesa (UERJ), é ser atento e um estudante das artes que, por acaso, somente escreve poemas. Tem por pretensão publicar o seu primeiro livro de poemas, cujo nome ainda não foi decidido, mas que já se encontra organizado. Os poemas aqui vistos farão parte dele.
***
Passa pelo portal,
a porta barulhenta.
Levanta no escuro
o sorriso que a
sombra não enxerga.
Brinca na perna com
os dedos, os pelinhos
que enrola e arranha
o prazer patético
o único
rasgo do toque.
Senta-se no
torso e se
te apraz, fita
próxima
do rosto
desejosa
(in)felicidade.
Anjo insuspeito
ninfa andrógina
Que arruma
meus braços
pra trás dizendo:
“Acalma teu fogo,
cãozinho infame,
hoje quero-te sem
beijos e virtude
***
Canção de Casamento
I
Ser safado é o Cupido,
emón parthénon, que
tanto melhores poetas
já flechou e dentre
tantos outros maiores
poderia tê-lo feito.
Mas contenta-se,
tu e ele, com a habilidade
média, o pouco fôlego e
pedem que cante algo,
pois não faço desfeita:
II
“Meu querer, nesse momento
de festa e casório anseio
que entenda, isto de honra
é tudo peta.
(Nunca tivemos pudor antes)
Agora nos casamos
ao som do aulós
III
“Emón parthénon,
rapazito nunca foi o Cupido,
nem mocinho o bastante
para fingir inocência. Sabe
de tudo e escolhe com dedos
finos os pares e os trios.
Se é salafra a vontade dele,
também o somos nesta dança
aos 25, na qual
vivemos o corpo inteiro.”
IV
“Todos sabem, o alimento
que queremos é o fruto mais doce,
com pouco sumo e muita semente.
Coisa que se come e se guarda pra plantar.”
***
Vim e sou do Mar,
porém pouco sei
do lugar das ondas,
dos grãos, do areal,
dos corpos de Sal
estendidos na
faixa olhando
o horizonte.
Me ensina, por favor,
ao preço de uma bebida
– cerveja e vinho – tudo
o que falta, ensina até
aquilo que não peço e se
faz escondido dos olhos.
Diga, de um salto passo
a praia, os carros, a linha
do metrô, os vagões do trem,
a Central e, numa imagem
febril, entro pelas janelas
sem asa alguma.
Abra as frestas, deixe
o Sol secar a pele que
também sou parte Sal,
água salobra, minha
palavra não é fértil.
***
Nicanor. Meu algo, Nicanor,
Inflamadamente lhe detesto.
Das muitas vontades que tenho
até enumero de quantos modos
quero que morra.
Ora, pois há o que lhe espera.
Guimarães está certo, na gira
do Ódio e do Amor
só um fino fio segura.
Me assegurou uma espera no
porto cada vez que eu chegava de
viagem, assegurou assumir
minha pele preta e o gostar
que cabia a nós dois.
Mas tantos nadam nas
suas costas largas
que não basta um só,
a aventura sou eu.
Verdade e retorno?
Quantas moças te esperam?
(Fico triste que minta para elas)
De quantos humores já não riu
sabendo que as facas
lhe eram voltadas?
Continua assim e na volta
me abraça como amigo em
frente do Cais do Porto,
sorrindo um colar inteiro.
As senhorinhas do Caju
sabem do nosso segredo,
e nos amam mais que lhe amo.
Vai! Vai e não espera
fachada de estimado
companheiro, aquele que
lhe abraça por trás
e levanta alegre.
Fica aí, na noite só,
mais cru é lhe deixar vivo,
derrotado,
sem esperar nada das ondas
e do que nasce delas.
***
Ofertagem
I.
Permita que eu viva, por favor,
aquele sonho do trenzinho
cor-de-rosa.
Me importam os Cães Malditos
se for eu aranhazinha preste
no corpo de alguém que,
como quem não nota,
me esmaga?
II.
Talvez seja mais do agrado
– de nós dois – um sonho
circense? De colores líricas,
sentimentais e açucaradas?
Brega até o tutano dos ossos?
Não somos mais infantes
Pra correr atrás de tanto riso.
III.
Oferto para a sua fome
digna imolação
de frutas compradas
na feira, pela confiança
da origem não revelada.
IV.
Nosso paraíso era esse:
Algum sangue escorrido
por baixo da porta;
mordidas sem cica
até sobrar o crânio dos
sentidos,
o pomo.