Cinco poemas de Pedro Wichtendal
Pedro Wichtendal é graduando em Direito na USP. Nasceu em 2001, em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), e atualmente reside em São Paulo. Site: https://pedrowichtendal.tumblr.com/
***
creo que esperanza, más que todo
llevando los días
mapeando los caminos que admite
la salud mental
un pequeño juego: inmiscuo alguna angústia
en las redacciones que ella me corrige
el cuerpo aprovecha
y te presenta un músculo nuevo
que, lo sé,
temblaría
en mi pecho
tu risa
se olvida de la mía
y pierde de a poco lo sensible
que era
al escucharme
en si misma
el cristal que uno enseña
el humo que te sigue el dolor
la dialéctica a punto de alcanzar
y tocar los animales :
queden al menos la ópera
la convicción
absoluta
que de estos cuerpos nadie nos saca
en esta casa
callada para aplausos
*
sugestão
ouvir a voz, suas poucas palavras
e perguntar com as mesmas palavras
algo que insinue uma senda
algo que traga à decisão
os sulcos, os efeitos colaterais
que a definem e limitam.
tensionar com a dúvida
a superfície inerte de sua ética
como se pudesse inscrever a ausência
na certeza da palavra:
procurar outras formas de se lançar em face à queda.
ouvir a voz:
posicionar-se distante do abismo
a partir de cada dessemelhança
detectar o vidro opaco que corta e infecta.
*
usucapião
decididos, é hora:
é preciso ter claros
os limites de uma casa
trazer consigo cada fotografia
que carregue vestígios da família.
também, juntar as contas de luz,
de água (entre duas,
as crianças de terra
bebem as tardes na boca
da mangueira.)
calcificar o acaso
no papel
como uma cruz,
uma narrativa. cálculo:
é preciso costurar os nós
do que diremos
embora viva, ainda,
o que evadimos da fala.
comprovar-se teus
os meus anos mais alegres;
depois, produzir
algumas tristezas.
comprovar-se nosso
tudo o que esquecemos
justamente porque o relegamos
ao esquecimento,
uma decisão.
*
margens
i
Esperar o convite vindouro outonal
à tua piscina, assim que o nariz sangrasse
(tubarão que anseia a própria seca, rêmora
encostada nas tardes de braços e fôlegos).
Já desejara com o corpo o pleno nado
antes de me adentrar às águas, às agulhas.
E, vindo o inverno, sentir as causas perdidas
das aves mergulhadoras, dos peixes que voam.
ii
Procurando a chave, você diz
que minha solidão te incomoda.
À porta, borbulha
o querer sedimentado.
– Joga o chiclete no lixo da cozinha
para não matar um passarinho de asfixia –
o último apelo sempre remete às
causas naturais, desesperado.
Penso em entrar
quebrar um abajur
na sua cabeça?
(Os corações de liquid paper e esboços fálicos que desenhávamos um no outro
eram mera ironia apenas porque fomos bem criados.)
iii
nos únicos dias possíveis
você ainda é viável e te perpasso
você jorra e me autoriza, estamos
concomitantes, e rejeito omitir o teu nome.
nos únicos dias possíveis, fundo as manhãs
conforme os nossos próprios significados
estou por você, te anuncio
junto a tudo que me suscita
e as coisas se conduzem paralelas
à promessa que não cheguei a descumprir.
entre as margens do irreparável,
torna-se norma o que seria
inenarrável, e inenarrável
o que seria a norma.
*
cartas
i
Não entendia como os livros te interessavam mais do que eu, odiava teus livros.
Com raiva te escrevi uma carta.
ii
Os livros que pegava da estante e te entregava nada me ensinavam.
Os livros que hoje te entrego me ensinam a você; depois te ensinam a distância.
iii
Tê-la pelas possibilidades de cada relato. Pelas possibilidades de cada lembrança.
Tê-la em voz e sonho, em verdade e surpresa:
segui-la como senda: guiá-la até seus próprios signos.
Mantê-la enquanto fronteira, o espaço entre um dígito e o próximo.
Estar atento.
iv
Trocamos notícias: ontem houve aguaceiro aí,
tristemente te imagino singrando estradas de barro a canoa,
alivia-me que você está bem.
Ouço que na correnteza
as coisas permutam entre polissemias,
as mulheres e os homens se permitem às coisas em estado de loucura.
Mas, ainda assim, concordamos – não existe poema de amor
numa carta qualquer, nem carta de amor numa carta
qualquer, a carta é uma carta: se joga a alguém ou se joga fora.
leticia videira
poemas INCRÍVEIS, inspirador!