Cinco poemas de Ricardo Carranza
Ricardo Carranza – São Paulo, 1953. Escritor, editor.
Publicações – Scortecci, Sesc, Cult, Clesi, Zunái, Stéphanos, Germina, Cult – Oficina Literá-ria, Mallarmargens, O arquivo de Renato Suttana, Triplov, &Escritas.org., Gueto.
Livros de Poesia publicados: Sexteto, Edição do Autor, SP, 2010; A Flor Empírica, Edi-ção do autor, SP, 2011; Dramas, Editora G&C, SP, 2012; Sóis 2016/2019 in Triplov; Pas-tiche, 2017/2018 in Germina; Centelha de Inverno, G&C, São Paulo, 2019.
Artigos e ensaios in 5% Arquitetura+Arte desde 2005.
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Janelas:
azul celeste,
violeta,
amarelo sódio,
rosa bebe,
rosa encarnado,
branco marfim.
Janelas
em busca de coragem,
esperança,
eternidade.
Pétalas de luz
no passo da noite
adormecem.
Minha janela
apaga,
e eu adormeço.
Ao meu nada
lavado de chuva
a dor concede o encantamento.
*
Noite
o ar da chuva
inspira.
Da janela
vejo a pedra leve
de véus de luz
entre
os ramos da noite.
E ouço:
– Boa noite.
– Dorme bem.
Incessante
forma do passado.
Tantos passos
e dança por um dia.
Quantos passos,
dança e guerra
por um dia
escuro de sol?
Ó noite
de centelha e frio,
dai-nos o hábito
da paz.
*
Janelas acesas nos ramos da madrugada.
No meu quarto
polvilhado de cinzas
um trinado,
um grão esplêndido de sol
dissipa o véu
dos meus olhos,
o chiado
dos meus ouvidos.
Infinitas luas de vapor de sódio,
ao canto
um ramo é o bastante.
Nada vence a folha nova,
a semente de luz.
Ao canto
basta o desprendimento.
Minha lanterna
incendeia um céu
seco de estrelas.
*
A quem
chegarão estas folhas
a desdobrarem-se extrato
do incerto grão?
Dedicado
ao ofício do momento,
mãos densas do sol da noite,
sexo ébrio de mosto,
jogo lúdico
à espreita
da incompletude inseparável
minha e sua –
a quem
o ofício da palavra?
Só a troca (amor) nos pertence.
*
Depois de recontar
os segundos
de um minuto
de silêncio
luz de primavera frutifica
a seca enraizada de inverno.
Cada artéria prima na geração da flor.
Pássaros e sóis da noite
renovam
brotos e botões.