Cinco poemas de Rosana Piccolo
Rosana Piccolo. Publicitária e poeta paulistana, atualmente em Curitiba. Autora dos livros Ruelas profanas (Nankin, 1999), Meio-fio (Iluminuras, 2003), Sopro de vitrines (Alameda, 2010), Refrão da fuligem (Patuá, 2013), Bocas de lobo (Patuá, 2015), além da plaquete O pão (Lumme, 2017). Organizadora da antologia MedioCridade (Laranja Original), ao lado do poeta Rubens Jardim. Participação em diversas antologias e revistas literárias.
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Asa ferida
manhã-assoalho
tamanha é a pressa no vento
(a echarpe dos anjos enforca torres de vidro)
avenidas __________ vomitam pernas de brim
quando não negras, azuis-celestes
pisam a alma das macabéas
no pão judiado dos bares
mortadela e migalhas.
*
meias do medo
finíssimas
as árvores _________ o seu espelho
língua tivesse verde seria
envenenada ponta de flecha
treva
medo do beco
medo do bêbado
medo do muro
medo de tudo
gira
como um vestido de baile
*
Bartender
balcão do sábado
escancarado absinto
no inferno azul
de copos apinhados
teus olhos-lamparinas
atentos a doses, fatias de limão
chaves esquecidas da madrugada
tamanha tua visão de mim
sentada à mesa de canto
com minha luva sem par
*
Placar de sangue
pombo pisado
no cio da feira de artesanato
balão, beijo de alumínio
falta pão no estádio
mas gladiadores e garras
garrafas quebradas quando
a noite chega
e lambe abajures
a lâmpada acesa na boca dos anjos
*
Largo dos Curros
é triste a Praça da República
dentro da burca da noite
palitos do poste
desenham bonecas platinadas
sombras de talco
dialeto de violetas na boca
dos pivetes
em camas de papelão
é triste a Praça da República
ao aviso do último metrô
não o ouvem as estátuas, atentas
ao mugido de um touro assassinado
nunca dirão o que sabem
e que não esquecem