Cinco poemas de Rudá Ventura
Rudá Ventura é poeta, músico e educador paulistano. Autor do livro Preamar, lançado em 2017 pela editora Laranja Original, tem poemas publicados também em revistas literárias do Brasil e de Portugal.
Encontrou na música a oportunidade de estender sua linguagem poética, tornando-se cantor e compositor.
Comprometido com a arte-educação, realiza palestras e apresentações de poesia recitada em escolas e eventos culturais.
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Poente
Amor,
Quando passar a tarde,
Encosta teu coração no ocaso
Pra que o fio de luz, que é semente,
Plante minha alma em tua noite
E assim, unidos ao firmamento,
Nasçamos juntos em outra aurora.
*
Preamar
Escreva meu nome na areia
Pra que nele habitem as linhas do Mar
E só o que diga a água
Ressoe em minha sorte,
Pelo sal que se estende aos olhos,
Pelas ondas que retêm meu ar.
Há um brilho de Lua no dia,
Há uma chama de Sol pela noite
E há um caminho de estrelas sobre as águas.
Escreva meu nome na areia
E deixa que as ondas me façam lembrar…
Eu sou da preamar
E eu trago em minha boca
A voz do Oceano.
*
Linhas na Relva
Vejo os campos com a mesma clareza
De quem lê as linhas da própria mão.
Gravo meu destino sobre a relva
E deixo que a terra sinta meus passos,
Antes mesmo de eu trilhá-los.
Sigo um caminho sem paragens
E apenas sobre o horizonte
Eu ergo minha morada.
Levo tudo o que meus olhos retêm
E entrego aos bosques
Minha alma em rama.
Eu beijo a rosa, eu toco a chama…
E vivo o infinito em instantes,
Porque assim é a eternidade
Pra quem ama.
*
Antigas Águas
Há tempos chove a noite inteira
E meu corpo eu levo ao campo
Pra banhar em antigas águas.
Verte um rio do firmamento,
Chega aos olhos à espreita
E nas lágrimas escorre outro afluente.
Da sorte as águas seguem o curso:
A chuva passa, o corpo repousa
E as gotas não secam.
… Eu vivo abaixo do céu,
Mas ainda lembro das estrelas.
*
Sementes
Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
Castro Alves
O futuro em sementes:
Um fruto nasce ao forjar a terra…
Pode ferir-se a mão,
Pode sangrar a seiva,
Mas o desejo revela suas folhas:
Bandeiras contra a cela.
Enfim, o pranto seca,
As pedras somem
E os olhos contemplam a primavera.