Cinco poemas de Susana Malu Cordoba
Susana Malu Cordoba, nascida em dezembro de 1988, paulistana formada em Recursos Humanos. Apaixonada por poesia desde o primeiro encontro com o Sarau Elo da Corrente. Desde então, a poesia vem sendo a extensão do seu amor todos os dias.
***
Pausa forçada
Virei as costas para a louça na pia. Optei pela cadeira de praia em meio selva de tijolo baiano e observei aquele mosaico feito de pequenas casas sem reboco. Seus becos e vielas, que se assemelhavam a raízes de uma árvore anciã a sustentar nossa história.
E, naquele instante, deixei que o sol queimasse minha pele.
Permiti, da mesma forma com que permito que os amores queimem minha alma.
Sim, pacífica.
Observei cada vermelhidão causada em minha pele pelo sol e recebi com certo prazer aquelas gotas salgadas de suor que brotavam em meu rosto.
Deixei que tocassem meus lábios e, senti aquele gosto duvidoso desses que só os amores passageiros são capazes de deixar.
E, em meio às orquídeas, alecrins, espadas de São Jorge, gritos de pão caseiro e borboletas… o sol que insistia em queimar… me vi ali, entregue ao simples ato de existir.
Como uma planta em fotossíntese permaneci imóvel, me alimentando daquilo que eu nem sei se era bonito ou se era poesia.
*
Das roupas que me vestem.
Já estava tudo certo: Manhãs ensolaradas, noites acaloradas e uma duvidosa esperança que me espreitava…
Já estava tudo certo: Novos sorrisos, novas histórias, corpos quentes, libido…
Já estava tudo certo: Tudo certo exceto pela mutação, a troca de pele que ainda não havia me visitado, o passado ainda me vestia…Eu, como peça de brechó comprada por engano, me via num novo corpo em um novo templo, onde eu tentava ser, onde tentava me reconhecer, mas o passado ainda me vestia…
*
Nua
Há tempos me despi
Ando nua pelas ruas
E os olhares atravessados já não me incomodam
Não finjo amor
Não finjo orgasmo
Declaro guerra
Choro quando dói
Machuco com palavras
Odeio meias verdades
Tenho razão mesmo quando estou errada.
Orgulhosa e vacilante não sei brincar de amar, sou mar.
E quando o assunto é você, quero tudo e pra ontem.
*
Lembranças
Estavam ali.
Espalhadas pelo chão.
Pequenas flores rosadas do grande Ipê.
E com elas a saudade das tardes de primavera onde eu derramava sobre ti meus devaneios.
Naquela época via mais valor na árvore do que na tão almejada casa.
Nunca soube explicar direito o que sentia ao ver aquelas flores caídas ao chão.
Eram como presságios de dias melhores.
Como se acalmasse a sensação de inquietude e desequilíbrio que me rasgavam por dentro.
E em todas as primaveras que pude estar ali o universo me presenteou com um punhado de esperança, em meio ao caos das incertezas.
Hoje longe de ti carrego folhas secas e uma inexplicável solidão.
Escrevo e reescrevo mentalmente novas casas, histórias, árvores e sensações, na expectativa de que novos horizontes me façam sentir a esperança de outrora
*
Visita
Não é de hoje que esse aperto no peito que se apresenta com um sapato quatro números menor me invade
Já não reprimo essa liquidez salgada que horas e outra insistem em invadir meus olhos.
Reconheço minhas fraquezas, identifico minha dor e a observo… impotente como um doente que reconhece os sintomas de suas enfermidades.
Eu a sinto, não a venero
Também não me iludo
Não lhes dou novas formas
Não invento novas cores
Ela é assim.
Cinza e Sóbria
E me visita de tempos em tempos para que eu saiba que amadurecer é preciso.