Cinco poemas de Tito Leite
Tito Leite (Cícero Leilton) nasceu em Aurora/CE (1980). É autor do livro de poemas Digitais do Caos (Selo edith, 2016). É poeta e monge, mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de ensino de Filosofia, com ênfase em Filosofia Política, Ética, Filosofia da Ciência e da Tecnologia. É curador da revista gueto. Tem poemas publicados em revistas impressas e digitais. Aurora de Cedro (7letras, 2019) é o seu segundo livro, do qual foram retirados os poemas abaixo.
***
OCEANO ENTRE AS MÃOS
Para te amar,
gastei os sapatos
como quem pisa
em redemoinhos
sagrados.
Para te amar,
coloquei em pétalas de papoula
o pássaro que emana
da garganta e guardei
a via láctea do teu nome nos estrondos
de um nirvana.
Para te amar,
fiz da saudade uma amiga
de longa data
— aprendi que a vida
é um sonho e há esperas
que sangram.
Para te amar,
domei os meus leões, domestiquei
o medo e não esperei
que a cerveja gelasse.
*
IMPERATIVO
É bonito quando o propósito
é maior que a vida. Acredito
no imperativo categórico
dos teus olhos.
Você afirma que com o tempo
todo amor que delira
perde a combustão, feito palavras
que não deságuam num voo.
Eu declaro: não sou de amar
por intervalos ou de fazer
som e fúria por nada. Discordo,
porque a minha fé em você
é menor que a dúvida.
*
SONDAREZA
No tinteiro
a cor
dos meus olhos.
Há poemas sinóticos.
Com o mesmo
logos, a mesma
forma, a mesma
errância, mas nunca
no mesmo inferno
de espanto.
Não há poetas sinóticos.
Todo marginal
da palavra tem
a sua maneira
ínfima ou celeste
de ser visceral:
alguns poetas
falam das coisas
que lhes faltam,
outros, dos demônios
que não partiram.
*
DO OUTRO LADO
Sabendo que tudo
é grácil, o poeta
talha o seu topázio.
Fazendo das dúvidas
que ardem
uma begônia.
Sangue das palavras
bem ditas.
Bendito quem chupa
o fruto e o caroço
do poema maldito.
*
TRANSITÓRIO
1
No imo
da Avenida
Paulista
o sulfato
da solidão.
Uma quimera
nos pega
pelas mãos.
Corremos
loucos
em busca
de uma coroa
de louros.
Pódio
deteriorado
e sem
medalha
de ouro.
Ausência
de eternidade
nos olhos
curtos de cada
passante.
2
Ensaiando
a própria fuga
da cidade,
durando
em fugacidade.
Não é a lua
que sangra.
São os pés
dos retirantes.