Cinco poemas de Viviane Carvalho da Annunciação
Viviane Carvalho da Annunciação é professora associada do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Cambridge e autora do livro Exile, home and city: the poetic architecture of Belfast, cujo corpus contempla a obra poética da Irlanda do Norte no século XX. Antes de se estabelecer em Cambridge, foi professora-adjunta da Universidade Federal da Bahia, onde foi editora da revista de tradução poética Almatroz. Também participou do projeto ProSOM, que visava traduzir e gravar peças radiofônicas para a comunidade carente. Publicou transcriações e traduções poéticas de Louis MacNeice, Seamus Heaney e Paul Muldoon. Após publicar artigos sobre as conexões entre a poesia concreta brasileira e britânica, a pesquisadora se dedica ao estudo dos romances de Machado de Assis à luz do tema da ciência.
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Um telhado roxo em cima de uma casa amarela.
Uma vida amarela embaixo de uma estampa cor-de-rosa.
Um vestido verde embaixo da cama de renda.
Uma linha, um ponto, um pó.
Cintilações de uma esteira azul.
O corpo de uma caneta vermelha.
A estirpe de uma janela fechada.
Iluminada. Cerrada. Sonâmbula.
Vida amarela cintilada em uma renda.
Caneta verde desenhada pela janela fechada.
Iluminada. Corada. Calejada.
Um pó, um ponto, uma linha.
Iluminações escuras no fecho da porta.
Porta branca. Sem passos. Sem chave.
Cerrada, com pedras. Sem pena.
Com sangue, vermelho. Ou azul?
*
Sprinkling in the sky, the staggering
Leaves of May make a
Conurbation of nature’s
Nurturing of time
Sparkling on the ground, the swaggering
Droplets of drizzle,
The stubborn nuisance of
Nature’s nurturing time
Wandering in the air,
Nitrogen, hydrogen, oxygen,
Argon
carbon dioxide
Nature’s nurturing time.
*
Em Google te procuro
Acho-te demolido
Sucumbido, engolido pela modernidade
Em Gógol te acho,
No subterrâneo e tenebroso
No frio da tormenta
Leve como a morte
Sábado de sol, os rumores do
Bruxo, do lírico, do sobre-humano
Aquele que ronda as mentes
E abre espaço para
Escuro, esquecido, caquético
Simplório…
Encontro a criança morta pela
Bala perdida – encontro um café
De bom gosto com o seu nome
Não te encontro
Somente no doloroso riso triste
Da morte
*
You left me,
Or, shall I say… (good-bye)
I left you.
Your watery eyes,
Your blistering sparkle (that burn?)
Your glimmering heat (enchanting…)
They are gone (for now?),
But they linger
In my mind – a dream (inconsistent nightmare…)
whose unreal images insist on
playing tricks, showing me flickers of you
To fall in love with a city
is the lost hope (platonic knave?)
of a return
of a reconciliation
of a regaining
of what has been lost (and found)
La serenissima…
*
Another day without your smile,
It seems to me it is getting
More distant
Precarious
The song of the bird that sings to nothing
The soul of the child whose parents are dead
The flame of the river that scorches the evening
Bad poetry will not get me there,
Silent nights won’t bring me there…
On the wings of a dream, I fly
… I will be there…