Clarice Lispector, Luisa Sonza e a literatura pop – Por Lívia Corbellari
Na coluna “carne viva”, assinada por Lívia Corbellari, tem literatura, amor e outros demônios. Quinzenalmente, um papo de mesa de bar sem pretensões, aceita um copo?
Lívia Corbellari (Espírito Santo, 1989) é escritora, autora do livro de poemas “carne viva” (2019 – Cousa). Formada em jornalismo, trabalha com produção de conteúdo para internet e possui o projeto literário multimídia “Livros por Lívia”, sobre a literatura produzida nos dias de hoje. Recentemente iniciou um canal no YouTube de resenhas.
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Clarice Lispector, Luisa Sonza e a literatura pop
Eu trabalho com literatura há quase 8 anos e meu desejo, desde o começo, sempre foi fazer do livro algo popular, provar que a leitura e, principalmente, a escrita é para todas e todos. Meus projetos estão sempre na direção oposta da intelectualização ou da elitização da literatura.
Sim, eu sei que moro no Brasil, sei que o livro é um objeto caro (e querem deixar ainda mais caro #defendaolivro), mas há formas de tornar a literatura acessível e criar o interesse por ela. Por isso, quando soube que o clipe novo da Luisa Sonza fazia referência a Clarice Lispector fiquei muito feliz e interessada. São ações assim que aproximam um público novo de uma das nossas maiores escritoras, tantas vezes chamada de hermética.
Não vou entrar aqui no trabalho da Luisa enquanto compositora, porque não acompanho a carreira da artista pop, mas sim na quantidade que eu vi de jovens que não conheciam Clarice Lispector comentando nas suas redes que estavam curiosos em ler os livros dela ou que já estavam lendo.
O clipe em questão, “Penhasco”, é uma referência clara a icônica e histórica entrevista que Clarice Lispector concedeu a TV Cultura, na qual a escritora fala das suas dores e prazeres como escritora brasileira de forma introspectiva e esfumaçada por cigarros. Talvez você não tenha visto a entrevista completa, mas com certeza já viu algum trecho sendo compartilhado nas redes sociais. Para quem não viu, assista aqui: https://youtu.be/ohHP1l2EVnU
Ao mesmo tempo, vi tantos outros achando um absurdo a cantora profanar a memória de Clarice Lispector com essa simples homenagem. Pessoas que ainda acreditam que a literatura é para poucos e que torná-la popular é uma heresia. Para quem trabalha com arte sabe que vivemos de referência. Livros, filmes, músicas estão sempre em diálogo com outras obras de arte e com a própria vida.
Chega de achar que a literatura é uma arte sagrada reservada apenas para poucos seres iluminados. Livros são para todos e todas que gostam, e têm paciência, de mergulhar em si mesmos, nos outros e em diferentes universos.