Coluna “Sonora” (01.03.20)
Na coluna mensal “Sonora” (clique aqui para acessar todos os textos da coluna), Aline Wendpap escreve sobre cinema e audiovisual, dedicando-se principalmente a tessitura de textos críticos, com ênfase na produção mato-grossense, nacional ou ainda latino-americana. O título da coluna visa brincar com a palavra, que tanto é ruído, quanto pode ser uma conversa ou um som bacana. Não deixa de ser uma homenagem ao som, característica vigorosa do cinema, além de se parecer foneticamente com Serena, nome de sua bebê. A coluna irá ao ar sempre no último domingo do mês.
Aline Wendpap é cuiabana “de tchapa e cruz”, nascida em 1983. Primeira Doutora em Estudos de Cultura Contemporânea pelo PPGECCO da UFMT, Mestre em Educação pela mesma Universidade, Bacharel em Comunicação Social – Habilitação: Radialismo (UFMT), integrou o Parágrafo Cerrado, coletivo dedicado a leituras de cenas de espetáculos. É autora do livro A Televisão sob olhar das crianças cuiabanas (2008, EdUFMT).
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Um acesso repentino à sétima arte
Veneta (16’12”, curta de Joelson Santos). MT. 2019.
Veneta, de acordo com o dicionário, é o acesso repentino de loucura. Explicação que traduz bem a narrativa proposta por este curta, que conta a história uma jovem apaixonada, fragilizada e atordoada por pensamentos, lembranças e visões de uma hipotética realidade. Tudo isso porque ela pretende descobrir o que aconteceu com o homem que ama, mas sobretudo, com ela mesma. Já que em algumas cenas a vemos repetir que ela tem um nome, ou mesmo a encontramos surpreendida por suas várias personalidades.
O curta rondonopolitano, com duração de 16’12”, teve origem a partir da peça homônima, também escrita e dirigida por Joelson Santos, que assina a obra. Ele é formado em Direito, no entanto, já foi premiado como ator em festivais de teatro mato-grossenses em 2002 e 2004 e já possui outros filmes no currículo.
A produção executiva ficou a cargo de Hermélio Silva, com trabalho de continuidade de Marcos Leque e Marcio Martins. É estrelado pelos mesmos artistas que atuaram na produção teatral, Alessandra Peil, Janessa Dalla Côrt, Laura Strassi, Michelle Sanquite, Raphael Galvão e Tânia Mara.
Foram dois anos de adaptação, preparação e produção, desde o início das filmagens até a estreia, que contou com sessões de exibições esgotadas, em setembro de 2019, no cine VIP do Rondon Plaza Shopping, em Rondonópolis.
A narrativa se aproxima de um suspense psicológico, com fatores intrigantes despertados principalmente pela condução não linear da história e pela trilha sonora assinada por Lucas Dias.
Os planos e fotografia merecem destaque, pois refrigeram a obra, com relação à sua apresentação nos palcos. A apresentação dos cenários, com uso de drone e grandes planos gerais transmite certa grandiosidade a obra. Aliás, chama a atenção a primeira cena da protagonista sentada na cachoeira. Enquanto os planos detalhes permitem boa cumplicidade com os sentimentos em questão. Fator que gera um paradoxo, pelo fato de a atuação conservar ainda muita teatralidade que, acaba por vezes, sendo exagerada para a câmera. A propósito, as cenas mais interessantes não contam com falas, como as do sanatório (com ótimo elenco de apoio – Gilson Santos, Edilaine Lopes, Marcos Leque e Rayane Boaventura) e do casal na cachoeira.
A obra é um exemplo de que com determinação e empenho um sonho pode se transformar em realidade, já que Joelson sempre quis transformar o texto em produto cinematográfico. Em tempos onde a maioria das pessoas faz “o que dá na veneta” é uma oportunidade de se refletir sobre situações aparentemente banais, que podem desencadear acessos repentinos de loucura, sem caminhos de volta.