Coluna “Teia Labirinto” (01.02.20)
Na coluna mensal “Teia Labirinto” (clique aqui para acessar todos os textos da coluna), Carla Cunha escreve sobre Literatura Erótica e Pornográfica. O nome da coluna nos remete à trama e aos caminhos enrodilhados que todos nós enfrentamos ao pensar na própria sexualidade. Nessa trajetória, pontos se conectam e produzem uma teia de informações sobre quem somos. Porém, às vezes, não encontramos o caminho e a sensação é como se estivéssemos num Labirinto.
Carla Cunha é paulista, escritora de Literatura Erótica e Pornográfica, mantém um blog com textos sobre o tema e em 2019 lançou “Vermelho Infinito”.
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O erotismo na Literatura e Poesia
Uma revista sobre poesia e literatura é um movimento subversivo, ainda mais se neste espaço se encontre uma coluna sobre Literatura erótica. Aqui estou eu, Carla Cunha, escritora, pesquisadora da palavra erótica e agora colaboradora da Revista Ruído Manifesto, com a coluna Teia Labirinto. Na minha intimidade, reflito!: Se a literatura e a poesia enfrentam o desinteresse cada vez mais evidente numa sociedade esfacelada pelo afastamento do ser a sua essência, que obstáculo intransponível me coloco à frente e à disposição ao aceitar escrever sobre erotismo e pornografia?
Talvez aqui o desejo de compartilhar aquilo que verte do centro mais profundo do meu ser, tal qual o compartilho com meus amantes no leito de minha cama. Talvez o desejo de desvelar o ainda inominável que surge na alta madrugada quando me masturbo longe do corpo lascivo, devido aos infortúnios da vida, não está ao meio lado.
Seja como for, é preciso afirmar que num mundo de pensamentos plastificados e palavras engessadas, o sexo e a poesia talvez se mostrem os únicos atos de espontaneidade e criação. Ainda que se acredite no lugar comum do erotismo, com seus clichês reduzidos ao específico papel da cópula, é possível dizer que é justo nesse campo que se pode obter a expressão mais genuína do ser, longe dos efeitos limitados do mercantilismo e da imagem virtual instantânea.
O erotismo é o que sobrevive de pureza e delicadeza quando tudo ao redor se congela, ainda mais, quando frente às bizarras e às viciantes práticas não convencionais. É justo nosso ser erótico que pode derrubar os muros que nos sufocam, nos tirar de nós e nos levar em direção ao outro, e assim ampliar nossas próprias fronteiras, não no sentido de expandir o território externo, mas em direção ao nosso eu interno na busca de reconhecer quem somos.
E assim, é imprescindível afirmar que a Literatura erótica resiste como fonte ou combustível que alimenta o fogo interno e nos abrasa em singularidade daquilo que existe em nós. Partindo deste ângulo, pode-se concluir que a Literatura erótica e pornográfica é de todas as formas de expressão artísticas a que melhor se relaciona com a alma e com o corpo na procura pela transcendência.
Ah!, antes que surja a questão que coloca em duas classes distintas erotismo e pornografia, peço aqui que sejam abolidas as fronteiras de definições. Que os limites de uma e outra se ampliem ao ponto da sobreposição. É preciso questionar o significado da pornografia e da vulgaridade, mais que isto, é necessário contestá-los, assim como alguns audaciosos críticos literários de nossa época questionam o cânone. As definições certamente nos reprimem e nos impedem de transpor nossas vulnerabilidades e desejos tão importantes para o nosso reconhecimento como ser erótico e pornográfico. Aliás, também questiono o que deveria ser censurado: o apocalíptico movimento mercantil de disputa do petróleo, uma rosada boceta ou a ponta em forma de cogumelo de um pênis?
Ademais, pergunto, como dois cus expostos na tela do computador ou na mídia aberta podem ser nocivos à sociedade? Em nada, senão de ocupar a mente com o corpo ou objeto imaginário, talvez mais real que as relações baseadas nos preceitos da sociedade moderna. A pornografia é fundamental!, e ainda falaremos mais dela nesta coluna.
De qualquer forma, inauguro aqui um espaço, mais para excitar, estimular, questionar, do que concluir. Teia Labirinto é uma coluna não para discutir sobre sexo, mas, sobretudo, para chamar à leitura dos melhores textos publicados, relacionados com a ideologia que defende a liberdade, o erotismo e a pornografia.
Sem mais, desejo um novo ano poético, de preferência explícito, exibicionista, como amantes que transam no corredor do condomínio, na janela de edifícios, no estacionamento de carros, na areia da praia, no chão da cozinha ou, simplesmente, na cama do quarto. Seja lá qual for a opção, que tenha alegria, prazer e orgasmo.
Bem-vindos à Teia Labirinto.
(Ilustração de capa: Ivan Sitta)