Copa do Mundo – “A Garotinha” (Croácia) – Por Wuldson Marcelo
A Garotinha (Balavica). Direção: Igor Mirkovic. País de Origem: Croácia, 2013.
O curta-metragem croata A Garotinha transcorre em uma região do Mediterrâneo, em uma cidade à beira-mar. Lá, Balavica (Djana Gudelj), de 11 anos, passa as férias com a sua avó (Slavica Jukic), sem ter muito o que fazer, desejando ir à praia e aguardando notícias dos pais. Entre os raros divertimentos e a expectativa de que algo movimente a vida, Balavica tem encontros no telhado do prédio, em que a vó mora, com Zane (Marko Boljat), 14 anos, que passa o tempo se exercitando e falando/pensando em coisas sexuais, já que está na puberdade.
A Garotinha alia-se às produções que miram o amor e a curiosidade sexual na adolescência. As conversas entre Balavica e Zane, geralmente, têm conteúdo erótico. Os jovens estão livres no arranha-céu, e, apesar das diferenças, aproveitam às tardes para compartilharem pequenas aventuras (como andar na borda do telhado) e ter novas experiências (como tomar bebidas alcoólicas). Eles conseguem se manter em sintonia também para dividir, com franqueza, desejos e perspectivas. Zane não tem freios ao falar com Balavica sobre fetiches e sua esperança de relação sexual com duas vizinhas da idade dele (hormônios adolescentes em ebulição). Sua linguagem é despudorada, mas o rapaz vê Balavica como uma criança. E assim ela é chamada pelas duas outras garotas, Vanessa e Senka (que se comportam de maneira ciumenta e provocativa com a garota). Neste primeiro momento, a fronteira entre a criança e os adolescentes – de um mundo necessariamente proibido a ela – e de Balavica com o mundo dos adultos (qualquer decisão dos pais no que tange ao divórcio será tomado sem sua participação) é exposta e reforçada.
O curta-metragem de Igor Mirkovic, em seus 16 minutos, apresenta um pequeno conto sobre primícias, paixão e crescimento, entre descobertas e decepções. Não é somente no amor que nasce já marcado pela frustração (diferença de idade e certa imaturidade de Zane) que Balavica experimenta sensações até então desconhecidas, é também na incerteza sobre o divórcio dos pais, que a deixam com a avó enquanto resolvem o impasse.
Balavica conversa com sua mãe ao telefone. A menina diz que está se divertindo, revela ter encontrado águas-vivas, a sua mãe não acredita e pede para falar com a avó. Na curta conversa, evidencia-se que Balavica é uma criança que não se entretém com facilidade. Há certa tensão entre mãe e filha, com o peso do divórcio e o temor da menina sobre o futuro. A sua avó tem um amor incondicional pela neta, porém não a acompanha em possíveis passatempos que podem distrair Balavica. Em uma cidade marítima, com praia e um azul convidativo, a menina está limitada pelos problemas dos adultos.
A fotografia de Radislav Ivanov Gonzo é um dos destaques do curta-metragem, captando os dias quentes de verão e seus efeitos físicos e emocionais – luminosidade, a vastidão de um céu azul e certa indolência vespertina –, além disso, aproveita a naturalidade de Djana Gudelj, que faz de Balavica uma menina curiosa, de certo, mas também de uma rebeldia ingênua. E é nessa resistência que a ordem daqueles dias se rompe. Quando Zane a recusa, logo após uma “confissão” atrapalhada dela, acrescenta ao vínculo criado na lentidão das tardes a indiferença e a desconsideração, para em seguida provocá-la – aumentando o grau de desprezo. A resposta de Balavica tangencia a correspondência entre sentimento e corpo para manifestar seu desagrado. E depois de flagrar os adolescentes em um momento de intimidade, os gestos de admirar o mundo (observando o mar e o além, a beleza do dia) e desafiar o arranha-céu marcam mais um avanço em seu processo de crescimento.
A Garotinha é um pequeno coming of age em que aventura, imaginação e curiosidade nos comunica algo que quase não recordamos: o primeiro amor tem sua contribuição em nossa jornada rumo ao amadurecimento.