“Culpa” (2018) – Por Sofia Ferrés
Culpa. Direção: Gustav Möller. País de Origem: Dinamarca, 2018.
Culpa (Den Skyldige) é um thriller dinamarquês, debut do diretor Gustav Möller. Trata-se de um one-man show sobre o policial Asger (Jakob Cedergren), que responde a chamadas de emergência num monótono e estéril escritório escandinavo. Um filme inovador, por usar um único local com grande efeito; e brilhante, por transformar um punhado de conversas telefônicas num filme de ação.
Den Skyldige é um ato teatral mais do que cinematográfico. O tempo é o do relógio e as informações nos chegam como num conta-gotas, enquanto Asger está confinado em sua mesa. Isso cria uma tensão crescente e claustrofóbica, exclusivamente ancorada em roteiro e atuação.
Efeitos sonoros e a edição do áudio do telefone fazem chegar ao espectador nitidamente a ação que não se vê na tela. Atividades do mundo ordinário intercalam-se com o plot principal (algumas ligações desprezíveis, outras burlescas) enquanto a tensão escala; e o subplot vem pelo motivo encoberto de Asger estar ali, o qual só o saberemos nos instantes finais do longa, criando um arco de empatia com o falho mas bem-intencionado anti-herói.
O roteiro ainda comporta um plot twist que fortalece ainda mais o elo do espectador à trama, algo comparado ao efeito que Black Swan criou pessoalmente em mim.
Examinando, vemos que o filme não se passa num escritório, mas no espaço mental do protagonista, onde reside a ilusão de si mesmo e outros demônios pessoais como personagens, conspirando contra ele. Embora com um script brutal, Cedergren é o elemento mais valioso da obra: seus olhos falam da culpa que o filme endossa.
* Sofia Ferrés nasceu em Montevideo, tem formação na área de Artes (Politécnica de València), Exatas (Unicamp) e Sociais (Boston University). Lançou O Pequeno Livreto de Haicais (2017) pela Oficina Tipográfica de São Paulo e en_vuelta (2018) pela Editora Laranja Original. Mora em São Paulo há 10 anos, onde gerencia uma consultoria de Design & Etnografia.