Dez poemas de Lau Siqueira
Lau Siqueira nasceu em 1957, em Jaguarão-RS. Reside na Paraíba desde 1985. Publicou oito livros de poemas, participou de diversas antologias no Brasil e no exterior. Mantém colunas no portal Crônicas Cariocas e na Revista Mallarmargens de Literatura e Arte. Os poemas aqui apresentados estão publicados nos livros O inventário do Pêssego e Livro Arbítrio, ambos publicados pela Editora Casa Verde (casaverde@casaverde.art.br).
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FILOSOFREE
dialogar
com o vento
mesmo
sem ar
eu tento
*
RESISTÊNCIA
o que me sustenta
sobre a carne e o osso
é não ter aprendido
a desistir
viver é voar
até sumir
*
VAGINAL
no lado de dentro
entre a pele e o motivo
entre o ritmo e o estilo
no meio
no exato epicentro
do infinito
no extremo íntimo
umedecido do riso
onde a força bruta
ejacula delicadezas
onde o caçador
é a presa
*
RAZÃO
NENHUMA
o que escrevo
é apenas parte
do que sinto
a outra parte
finjo que minto
e acredito
*
CONDIÇÃO PERENE
nas cheias
o rio comanda o espetáculo
e as margens são apenas
degraus para o leito mais fundo
nas secas
o rio é a margem
*
O GALO
o silêncio
com suas equações
de estrelas
abre os portais
da madrugada
sob os olhos atentos
do infinito
um quarto de lua
empresta a partitura
ao galo
*
TINTO SECO
Querido diário. Vírgula.
Novalinha. Sou um cidadão do
meu tempo. Ponto. Olho ao redor
e vejo que a esperança habita
somente os olhos de quem luta.
Ponto. Vejo tudo pelo olhar que
assusta. Ponto. Vejo a louca
entre a viagem e a musa. Ponto,
ponto, ponto. Vejo a vida difusa.
Ponto. Inconclusa. Ponto.
E ponto. Ponto.
*
SENHA
Ela tinha um rio de seda no abraço.
*
PORNOGRAFIA BRASILEIRA
madrugada
três meninos
ajeitam seus lençóis
de sacos e jornais
no mercado público
de mangabeira
chove.
*
ESCALA
Às vezes, quando estou de um jeito
que nem mais a tristeza incomoda,
penso que minha alma é uma escada.
Então vou subindo, palavra por
palavra… Separando as sílabas
conforme a capacidade de
armazenagem dos meus bolsos.
Até que a poesia acena para mim
de alguma janela.
E depois some
como o voo que fica na memória
tamanha a beleza do pássaro.
RUBERVAM dU nASCIMENTO
que beleza, os poemas do lau, que beleza! rápidos e certeiros.