Discurso de inauguração do site Ruído Manifesto
Discurso proferido pelo membro fundador Rodivaldo Ribeiro na festa de lançamento do site Ruído Manifesto. Dia 29/12/2017, sexta-feira, no espaço cultural Metade Cheio. Cuiabá.
“Boa noite, gostaria de começar agradecendo a todos os meus amigos pelo apoio incondicional ao longo de todos estes anos.
Observados agora, da janela do tempo já transcorrido, percebo: ele flui como um rio onde correntezas vigorosas tomaram corpo na vida de todos nós mas, me parece, formou redemoinhos mais fortes ainda na minha.
Pensei em chegar aqui e apenas enviar certo tipo de saudação festiva, cordial e respeitosa a estes amigos por jamais terem – ao longo dos três anos de tentativa, erro e expectativas frustradas – desistido e se manterem a meu lado, a dizer-me simplesmente: “calma, estamos todos aqui. Assim que você der o sinal, todos nós apareceremos”.
Confesso, muitas vezes cheguei a duvidar de ambas as coisas: primeiro que a ocasião desse sinal chegaria e segundo que, caso este viesse mesmo a ser emitido, ainda existiria alguém para sequer ouvi-lo.
Mas o tempo, como escreveu há muito Platão, Parmênides ou Sófocles (eu sinceramente não lembro direito), é o senhor da razão. E tanto um quanto a outra são deuses duros, do tipo que têm o péssimo hábito de nunca ouvir nossos clamores e de, ainda por cima, seguir seu ritmo como bem querem.
Hamlet na sua Dinamarca devastada nos contou isso de maneira particularmente sublime, na poesia desesperada do momento em que percebe ter matado não seu desafeto Cláudio, mas seu aliado e, pior ainda, pai de Ofélia, Polônio; naquele contexto, para ele, o seu tempo e a sua razão. Se viu ali sem os dois.
Foi como me vi, particularmente durante o último ano e meio. Procurei não demonstrar isso a ninguém. Claro que fracassei fragorosamente, mas graças a Deus Cuiabá abriga bares na mesma medida em que dá guarida a todo tipo de desgraça. Por sorte, somente eles foram as maiores testemunhas dessas sucessivas quedas.
Mas minha velha mãe me ensinou que há tempo para chorar e tempo para rir. Ainda que muitas vezes essas ocasiões se confundam e que isso talvez seja o grande questionamento: Será que deveríamos sempre nos comportar como o gigante menino-rei, empertigado em seu poderoso e inquieto bucéfalo, a adentrar orgulhoso e altivo – saudado por um coro de 300 crianças advindas de todas as partes do mundo conhecido de então – sua maior Alexandria e desse tipo de glória nos comprazermos?
Ou talvez devêssemos, como fez inúmeras vezes Sofócles ao longo de sua vida de infinitas guerras contra os persas, adentrar, ébrios e descompassados, Atenas repetidas vezes, sempre nu e à frente de um coro de efebos?
Não sei. Não consegui chegar a uma conclusão, mas pude perceber o quanto há nisso tudo das duas maiores coisas que formam a substância da humanidade — a glória e o ridículo. E essas duas coisas são muito mais semelhantes do que costuma aceitar o senso comum.
Porém hoje eu não quero ater-me às dúvidas, mas propor um brinde à certeza firme de que podemos e devemos sim render homenagens tanto a um quanto ao outro, e finalmente perceber que, no fim, ambas as coisas são maravilhosas.
Lutemos para sermos, assim, ao menos hoje, um pouco de cada, mas que os momentos de ridícula incerteza sejam sempre sufocados pela gloriosa convicção de que conseguimos, ainda que em um breve e vão momento, ajudar a iluminar nossas existências.
Ótima noite a todos e, uma vez mais, muito obrigado.”
Ilza Carla Reis
Meus sentimentos mais SINCEROS pela partida de rodivaldo.
O que pode amenizar a saudade é o seu legado e sua paixão pela literatura…