Dois poemas de Déborah Bacelar
Déborah Bacelar mora em Manaus. É professora e pesquisadora. Escreve, sobretudo, poemas e contos, além de se dedicar à arte de desenhar nas horas vagas.
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a serpente
ela disse
ao pé do meu ouvido
coma este fruto
comi
lambuzei-me do açúcar
solvendo na língua
escorrendo pelo meu dorso
arrepiado, teso
delirei sob o corpo quente
duro como pedra
laçando minhas ancas
levando-me ao purgatório
pecaminoso
o paraíso dos perdidos
suspirei
gemi
a vida entregou-se a mim
ensinou o verbum
mostrou-me o horizonte
das matas exóticas,
a serpente abençoou-me
deu-me a árvore da vida
dividi com Lilith
***
o sexto dia
do vazio aos novos horizontes
o mundo precisava de um domador
da terra
aos mares
para semear
para colher e
propagar a vida
da carne quente do útero
a primeira espécie era fêmea
feita das labaredas dos
corpos nus, rígidos
como pedra
como amor
só cor
do sangue rubro trans-bordou
a essência do prazer de ser mulher
Matheus Filipe Melo dos Santos
Belíssimos os poemas, IMPACTANTEs, SUGESTIVOs e SUBVERSIVOs. Adorei o vocabulário quase litúrgico em algumas partes e toda a desconstrução de seus sentidos. Potente.