Dois poemas de Janete Manacá
Janete Manacá: “Quis tantas coisas da vida, ser cantora, atriz, bailarina… E por fim, fui acolhida pela poesia. Foi amor à primeira vista, amor que encanta a alma, que ilumina os olhos, que arrebata e transcende todas as possibilidades. Fui escolhida e escolhi a simplicidade do cotidiano para representar. A poesia ampliou a minha visão de mundo e me trouxe muitas alegrias. Lado a lado seguimos a vida transpondo obstáculos e conquistando novos espaços. Dessa mágica relação nasceram os livros: Deusas Aladas, A Última Valsa, Quando a Vida Renasce do Caos, Sinfonias do Entardecer e a participação na coletânea Sete Feminino de Luas e Marés com 30 mulheres brasileiras. Há 38 anos escolhi viver em Cuiabá, a calorosa cidade-poesia. Por tanto amor envolvido, sou feliz e agradecida. Atualmente sou integrante do Coletivo Literário Maria Taquara – Mulherio das Letras/MT e Parágrafo Cerrado; bacharel em Serviço Social, Comunicação Social e Filosofia, com especialização em semiótica da cultura pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)”.
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Criança interior
O tempo corre freneticamente
E eu continuo acreditando em sonhos
Para preencher as lacunas da inquietude
O vento toca suavemente meu rosto
E desperta lembranças adormecidas
Guardadas na memória do esquecimento
A chuva cai sobre o meu corpo
Borda a silhueta da minh’alma
E torna-me reluzente como um cristal
O sol se curva no horizonte
E convida meus olhos a admirar
O fim da travessia de mais um dia
A noite chega lírica e magistral
Desperta a música da minha consciência
E inspira lindamente a minha criança interior
*
Recordações
Hum… cheiro de infância no ar
Pássaros brincam nos fios de alta tensão
Libélulas coreografam o bailado da vida no quintal
Da janela do quarto eu contemplo o visual
O beijo quente do sol aquece a rotina
O azul-celeste envolve minha alma
O cheiro alquímico de café inebria a sala de estar
Tardia é a hora do desjejum matinal
Minha mente vaga entre filosofias
Imersa em velhos álbuns de família
Fotos sépias e outonais
Rasgam o ventre do tempo
Absorta em pensamentos
De mãos dadas com o vento
A criança sorri e se vai
*
Foto da autora na página inicial: Judite Botega.