Dois poemas de João Henrique Balbinot
João Henrique Balbinot, nascido em 1989, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas. Quase sempre. Além de escritor, é também psicólogo. Como autor, publicou os livros de contos No arco-íris do esquecimento (Ed. Multifoco, 2012) e Permeabilidades do Intransponível (Ed. Patuá, 2016), e também os livros de poesias Pequenezas e outras infinitudes (Ed. Multifoco, 2014) e O medo de tocar o medo (Ed. Patuá, 2018). Contato: jh_balbinot@hotmail.com.
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folhagens à luz neon
em quantos reflexos se faz a noite?
à noite os plexos se refazem
consecutivamente quantas vezes se quiserem, se buscarem
ao fazer do novo encontro doutro
há quantos
gosto de ver um livro já lido sobre outro
assim na meia luz
páginas de palavras sobrepostas
assim sabidas, ainda que segredadas
como minha pele sobre e por entre a sua
camadas, desníveis, desalinhos
de tudo aquilo que me deslumbra e tanto me alumia
gosto de te ver
fosforescente de sentidos
da pele e do léxico
significando significantes prolixos e profícuos
a imagem do que me atravessa
à imagem atravessada de nós tantos
daquilo que imaginei e rememoro em criativas lembranças
brumas de uma névoa após a outra
querendo mais uma vez o soterrar doce de estar
nessas letras que me dançam e dançam em mim
nos descubro, cobrindo de pele nua
sobre você, sobre ti, sobr’ergo e emudeço inundado de tanto
tropeço em tropeços, tátil adiposo
passeio o dedo, os olhos e engrandeço cavernoso
íntimo infinito ínfimo, na crua carne curtida
adivinhando cores, advindo poéticas
A história oficial
a sombra do desejo-estar se imprime nessa brita
sombreado de tanto querer e não ser
cravado em negativo
nascido de estrangulamentos, crescido em engasgos
as sereias decepadas cantariam houvessem cordas
sobra o som da convulsão na impossibilidade nuclear
alguns signos, breve alarido
atirados em face a nadas
só
filhos de hiroshima sonham em sobreviver até chernobyl
transitoriedade nuclear
corrida de toda nossa ignorância
para que? para não nos moverem daqui
minúscula parcela de poder, onde sonham latifúndios
um espanto
e somos sugados a nós próprios
daí o nada
saliente
aquáticos se afogam
crânios sorriem