Dois poemas de Lívia Bertges
Domingo
Domingo,
no arranque de fronhas,
tiro o peso das mãos.
Os passarinhos, no berro ao longe,
emudecem ventos – esforço os ouvidos.
Carrega os sentidos às extremidades.
Desponto os frisos no lençol e delineio escombros.
Em sabão, dissolvo as borras,
desintegro os germes acumulados.
Os pós, as poças, os fios de cabelo,
Que encapsulados, entregues às rotações,
tremem vertigens premeditadas,
no duplo-enxague.
*
Jogo
Suspensão após tombos.
Geometrias básicas,
Cada base é cintilante,
macia e elástica.
Colidem no rodopiar.
Os triângulos
Viram e mexem
Saltam em arranque
Com velocidade
Atiram-se na pontaria
daquele eu-rolante,
força nas perpendiculares
força cerrada nas laterais
da forca de dedos pontudos
nas superfícies em orifícios,
dois ou três,
Correndo pelas tábuas lisas.
Os círculos em queda,
em quantos graus?
eu-troncho
traço rota,
quebro membro.
Jogo o corpo.
Corpo jogado.
Rolado,
Percebe o chão.
Sorriso roxo.
Retângulo cortada, em dois ou três,
Vida embaralhada,
roda em transe, troca e trinca.
Voa, veste a sentença:
Planar desalento de articulações.
Eu-ponto-de-partida no
caderno por colorir.
Nós, peças do oculto cálculo,
quadrados em exame.
Cada estabilidade,
eu-recosto, eu-encosto.
Em seguida, dobro em partes,
O êxtase nos barulhos cortados.
Prevejo o ataque de frente.
Eu-sempre-utensílio,
Agudo, frouxo no
frêmito do novo design.