
Dois poemas de Raquel Soares
Raquel de Mello Soares ou, como costuma assinar em seus textos, Raquel Soares, é uma escritora na página do facebook/instagram/tumblr “Palavras Salgadas”, além de youtuber, dona do canal Palavras Salgadas, no qual fala sobre livros e escrita. Concluiu recentemente a graduação em Escrita Criativa pela PUCRS. Publicou, no ano de 2017, um conto intitulado “Beijo de Outono” na edição de outubro da Revista PUCRS e, em 2018, mais três contos em três antologias diferentes: “Cheiro de coisa morta” na Antologia Dois da Escrita Criativa PUCRS, organizada pelo professor e coordenador do curso Bernardo Bueno e publicada pela Editora Bestiário; “Colisão” na Antologia Sonhos Literários, organizada pela escritora Brenda Rodrigues e publicada pelo Selo Editorial Independente; e “O menino que não tinha medo de monstros” na Antologia Quem me conta um conto?, organizada por Crys Magalhães e Giuliana Sperandio e publicada pela Editora The Books. Em 2019, publicou o poema “Capitalismo urbano” na Antologia Poesia Brasil 2019, organizada por Isaac Almeida Ramos e pela Vivara Editora. Também trabalha com desenho, usando tinta aquarela, lápis de cor e mesa digitalizadora. Posta suas ilustrações no Instagram @rachel_art_99.
***
{roda gigante}
Às vezes estamos por cima,
Às vezes por baixo.
Não importa se estamos quebrados ou enjoados,
A roda gigante não para por ninguém.
Às vezes ela parece girar mais rápido,
Às vezes mais devagar.
20 voltas completas eu contei até agora
E já quis descer mais vezes do que isso.
A vista às vezes é bonita e de tirar o fôlego,
Às vezes é podre e corrompida.
Quis tanto evitar os lados ruins,
Mas eles sempre aparecem, sempre voltam.
Gira, gira sem parar.
Num círculo infinito.
Os casais se juntam, separam.
Outros pulam para fora.
Mas estamos todos no mesmo brinquedo
Esperando pelo fim.
Por quando o funcionário vai gritar:
“Acabou, desçam todos, por favor,”.
Para onde iremos depois?
Não sei cada um imagina algo diferente.
Eu espero pelo descanso
Na tranquilidade de uma consciência limpa
E num passeio completo e bem realizado.
Enquanto isso,
Continuo aqui.
Vendo as engrenagens girarem
Para cima e para baixo
Ou de um lado para o outro.
Vendo as voltas passarem
Pelos meus dedos frágeis.
*
{pedaços de você em mim}
Sinto falta de tudo sabe?
Das conversas,
Das fotos estranhas,
Dos passeios,
Dê tudo o que foi e não será mais.
Sei que não deveria,
Mas é difícil evitar.
É difícil enfiar todas as lembranças
Para debaixo do tapete como poeira velha.
Às vezes penso em segundas chances,
Em voltar atrás,
Em procurar,
Em tentar mais uma vez,
Mas então eu lembro:
Das mentiras,
Da chantagem,
Da traição,
De tudo que você fez e eu não consigo engolir.
É um peso amargo no fundo do meu peito
Perfurando minha pele de dentro para fora.
O sangue jorra e eu me afogo nele enquanto as lágrimas se misturam aos poucos.
A dor e saudade se confundem.
Me confundem.
Disse para mim mesma que estava fazendo o certo
Quando peguei tudo e fui embora.
Quando te afastei sem explicar.
Quando deixei de responder ligações e mensagens.
Mas de vez em quando
Sinto a incerteza de uma história
Mal acabada.
De um capítulo que eu arranquei do livro
Como se nunca tivesse existido.
Talvez ainda existam correntes de você
Em mim.
Me puxando para baixo,
Me levando a cometer os mesmos erros,
Me assombrando nos cantos escuros d a minha memória.
Preciso te exorcizar
Para fora dos pensamentos,
Para fora do coração,
Para fora de mim.
Pois aqui já não é mais o seu lugar.
Talvez nunca tenha sido.