Dois poemas de Rodolfo Mondoni
Rodolfo Mondoni nasceu em Piracicaba, interior de São Paulo. Há quase 10 anos mora na capital paulista, onde se formou em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e fez especialização em Ciência Política pela FESPSP. Trabalhou como repórter na Gazeta Esportiva, na Editora Nova Criação e no portal Infomoney. Foi foca do jornal O Estado de S. Paulo e, entre idas e vindas, já completou cinco anos de casa. Tem poemas publicados pelas coletâneas do “Concurso Nacional Novos Poetas” e alguns sites especializados. E, desde 2015, trabalha no seu próprio livro de poemas.
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BEAUVOIR, MON AMOUR
Simone era o nome da mais jovem aluna da Sorbonne
Naquele suicida ano de mil novecentos e vinte e nove
Não sabia o que mais me encantava naquela mademoiselle
Talvez fosse a vontade de ouvir sua voz rouca e apressada
Talvez fosse o contraste com a minha mãe Anne-Marie
A mulher que me trocou por outro homem
Quando eu tinha apenas onze anos de idade
Talvez fosse o fato dela não ser uma boa católica
Talvez fosse apenas o meu estrabismo divergente
Conhecer Beauvoir foi como descobrir um novo planeta habitável
Finalmente encontrei alguém assim tão inteligente
Para poder discordar apenas pelo prazer da discussão
Se conversássemos até o fim dos tempos ainda assim faltaria tempo
Sentia-me preso a liberdade de espírito daquela mulher
A minha beaver, o meu castor, o meu amor
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RENDEZ-VOUS
Poemas sem pontuação
Nascem de uma mulher
De sorriso enigmático
Musa maior dos ladrões
Da fortaleza de Filipe II
Libertos do cárcere
Versos livres voam
Por bairros boêmios
Em ruas sem número
Pelas noites de Paris
Da pastora de ferro
Manequins guilhotinados
Bailam vestidos de grife
Refletidos nas vitrines
Correm os carros
Pelas curvas do Sena
Em albergues tristes
Pintores e poetas
Adormecem alcoolizados
Sonham com o futuro
Vomitam a aurora
E se esquecem
Versos livres voam
Respiram a fumaça
Cinza das chaminés
E das estações de trem
Invadem os cabarés
Pela porta dos fundos
Contemplam a carne
Em bandejas de prata
Fadas fornicadoras
Dançam com máscaras
Para uma natureza morta
Museu do Homem
O mundo ultrapassado
Dos gregos e romanos
Deuses mortos
Cristo crucificado
Versos livres voam
Atravessam o Atlântico
Cruzam correntes
Conhecem os três ases
Às margens dos mares
Ásia África e América
Com seus Cristos
De outras crenças
Comem a cultura
Da arte primitiva
Com um bom café
Em uma xícara de pelúcia
Na companhia de Picasso
Servida pelo garçom
O verdadeiro ladrão
Herói nacional
Rival de Napoleão
Reis e rainhas
De sangue azul
Vertem da terra
Vermelha em óleo negro
Queimam nos motores
Lubrificam as engrenagens
Dos novos homens
Versos livres voam
Com suas penas
Sem piedade
Em ziguezagues
Viajam pra fora
Para compreender
Melhor por dentro
Separam a cabeça do corpo
Impressionam os impressionistas
Isso não é um manifesto