Dois poemas de Wesley Rocha
Wesley Rocha nasceu em Vila do Café (BA), em 1994. Foi para São Paulo ainda recém-nascido. Cresceu na periferia da zona sul e hoje vive no município-dormitório de Itapevi. É graduando em Letras – Português/Espanhol pela FFLCH-USP e bolsista no projeto “A publicação e tradução de poesia hispano-americana no Brasil 1990-2010” pelo Programa Unificado de Bolsas (PUB), orientado pela Profa. Dra. Idalia Morejón. Mantém boa parte dos seus escritos no https://umacabecadevento.tumblr.com.
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Bagulho loco
Aqui em São Paulo o bagulho é loco, ouvi dizer.
O tempo é foda,
a gente entra numa corrida coele.
Tem vez ele caminha junta, massageia
Tem vez é corte, cansaço-esforço demais pra quem não tem língua-mãe
É dor que dói abrir a boca,
e as palavras ocas mudas rastejam.
Eu só queria me chamar de meu. Pertencer a mim. A mim mesmo eu ser-me
“palavra véia, longe”
A linguagem ela ainda é forte por demais,
é nutriz,
é motriz.
Cometer errância uma vez na vida é permirtir?
permitir-se
permitir ser,
direi diria dizem.
Cada volta parece a repetição da outra.
Canta!
É, me cantam, eu canto.
Solte-me demais sou soltei-me.
Se elevam.
Um ritmo dentro silencioso,
ruge baixo, percusiona ou percursiona
balbucia, faz erro, faz!
Desfaz a realidade em microcontoscontoscantosquantostststs.
O vento se ausenta uns minuto.
Tio, posso pegar minha pipapapepipopu?
Deixar língua soltar mole no escuro.
Oxi! deixa a língua solta.
Em silêncio. Cérebro pensa,
cérebro pensa mais que eu.
Ora! quem eu sou eu?
Me faço de besta ou bobo e faço.
Dá serto, dá muito errado.
Dá muito errado experimentar.
Só queria parar de caçar-subtrair do fora assim.
Dessa mesma maneira eu errei.
Muito errei, viu.
Vamo caçar um lugar comum pra gente se, sem entender, se entender?
Sente o gusto de brincadeira. Ai, que brinquedo!
Ai, que preguiça!
Sentir o desejo no movimento.
Desperceber.
Desarroyar.
Vou quebrar na sua cara,
no meio da tuacara,
um batido nu ritmo nú.
Meu filho me falô são sete volgal. Cê entendeu?
Onde não queremos chegar.
Nós queremos chegar.
Chegamo!
São Paulo, eu delirei viu, ouvi dizer.
*
Constitucionalissimamente
Comuéqui constitui u mundo?
Um canal de gás natural
Debaixo doasfalto
Dos canteiros
Da rodovia
Comé qui se constitui o mundo?
Um risco imanente
Eminente explosão
Mistérios:
Do qui é qui se constitui u mundo?
Feito feio
Desenfreado
Bunitu é ondi?
Às escondidas
Tudo se esconde-revela
Siescondi
Até 30
…Têdois têtrês têcuatro
E assim vai
E assim ia
no esconde-esconde
Corrige-me
Ai, açoite!
Ça noite nem cumeça
Os eçes
Cadê
éses
Tudo começou cum perigo
Frágil papel
Paradas bíblicas
Movi u imagináriu
Move Vê
Trim
Triz
Um som assim,
Não assim,
Queu num posso responder,
Num posso
Treme tudo
Corda bamba
Balança palavras
Boca aberta
Beiço dente língua
Cum que qui parece?
Cum quê
Misturu tudo
Ressoa
Recuo
Censuru
Seguro firme
Seguro mole
Deixo soltar,
De repente,
Num deixo
Misturu todo
Tudo parece.
Parece
Errado demais
Fórça a dor demais
Fórça
Queru falar comu falu
Não quero
Como falo?
Como?
Como?
A minha língua não existe, é isso?
Calaçaboca
Cala!
Num sei mais qui fazer
Calar-me-ei.