Dois poemas e um conto de Eliete Borges Lopes
Eliete Borges Lopes é escritora, ensaísta, roteirista, diretora, poetisa, desenhista, fotógrafa, maquiadora e iluminadora cênica. É autora dos livros de poesias Scarlet e o Branco (Multifoco: RJ, 2012) e Nem Pés e Mil Cabeças (Edição da Autora, 2014), além de ter poemas esparsos, produção de Mostra de Cinema e Espetáculos de Dança Contemporânea. Trabalha com oficinas de arte, literatura e educação, adaptação de roteiros, mini-cursos e oficinas pedagógicas. Doutora em Educação pela UFMT, integra atualmente o Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação e milita junto aos Direitos Humanos. Transita entre Educação e Arte.
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Étna
Navego veloz contra ventos e temporais
me guiando por teus sinais
perco-me na poeira estelar do teu rastro
cometa sem órbita!
Nascido do magma
voraz, aterroriza como Étna
catástrofe provocativa!
Mas também eu não me contenho, não o tenho!
A arder em paixões faço-o fugir como a um problema.
E como que varrida a terra e seus viventes
cada qual em seu barquinho torpe despedaçado,
Náufragos
remamos contrariados.
*
[…]
Uma lâmina afiada
uma palavra corte
um corte
um papel navalha uma lâmina forte
um verso rimado
um golpe torpe
um rio breve uma chama extinta
eu nada mais
e o mundo infindo
*
Ah!
Chegam num carro grande. Com chapéus, malas, os cachecóis… de uma longa viagem. Inclusos estão avós velhos, cachorro na mala-quadrado de cachorro, duas mocinhas branquinhas com blusa e tênis All Star rosa; ao chegar a casa é imensa, mesmo sem descer as malas e as coisas do grande carro, não se sabe exato por qual motivo começam todos a conversar e ver o que há antes da porta que separa o que é o dentro e o fora, parece então que todos de 2 em 2 entreviram-se numa hipnose, e ali, como estátuas daquele limpo campo aberto, se esqueceram. Percebendo tal ocasião, olhamos um para o outro num sorriso sabido e surdo. Entramos. Todos naquela bolha invisível e quebrável; fechamos batendo a porta e dali de onde limparão os pés, sairá um ah! de um gozo que acordará todos no jardim, num lapso, e enquanto o mais próximo dos pares coloca a mão na maçaneta, dá tempo de, de costas nós dois, eu fechando o zíper do jeans e ele o último botão da camisa abotoar, dizer: e então… vamos descer as coisas do carro?
Comento que é linda a tela na parede do lado da porta.