Duas prosas poéticas de Emanuela de Sousa
Emanuela de Sousa é poeta e escritora, natural de São Paulo do abc paulista. Fez teatro aos 11 anos e se arriscou pela pintura e em desenhos, mas foi na escrita que se encontrou. Emanuela é autora de dois livros publicados: Interrupto, sobre todas as coisas que guardei (2016) e Coração a bordo (2020) Atualmente é colunista em um Portal, o Potiguar Notícias.
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A Catedral
Está não sou eu que te escreve, e sim minha sensibilidade. Os sentidos neste momento saltam, a intuição alarma, os olhos gritam. Em carne viva, anuncio que a catedral que construí em mim irá desabar dentro de alguns instantes… Não sobrará mais nada além dos destroços, os escombros. Mas dentro de alguns meses passará pela restauração.
Recolham as crianças e fujam o mais rápido possível, as portas irão se fechar. Ninguém sabe como fica aqui dentro depois do desabamento, mas aviso-lhes que a visão é caótica. Não há sinal de vida, ficam somente os restos, o concreto pelo chão. Ninguém fica para reerguer as paredes, renovar as pinturas, nem para erguer o lustre.
Veja a catedral que construí dentro de mim para que venha me explorar.
Perguntaram-me há quanto tempo tenho este templo, respondi sorrindo: “Desde que lhe conheci.” Que pena que você não tenha vindo explorá-lo, que pena que você não conseguiu ter uma visão extraordinária dele, o construí especialmente para encher teus olhos.
Mas agora eu preciso de um tempo. Tempo para reerguê-lo, tempo para avivar as pinturas, retocar as paredes.
Deem-me tempo para a reconstrução.
Deem-me a solidão.
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Sexto Andar
Cairam-lhe gotas de vinho tinto nos lábios. Ébria, tu me questionas o porquê de eu estar querendo partir, mas as palavras não saem da minha boca. E por mais que eu tente expressar o que se passa aqui dentro, ainda seria pouco…
Acho que você não entendeu meus sinais, nem ao menos me leu, na verdade você nunca esteve disposta a me ler, então por que se importaria agora?
Eu sinto uma imensidão. E estou sozinha.
Bato a porta. Pego o primeiro ônibus de volta para casa. Ainda em fúria, sinto raiva, mas raiva de mim.
Desconfio que ainda hoje tu estarás pelos bares da cidade em busca, talvez, de consolo.
Mas tudo o que encontra é a troca do sexo barato, a bebedeira, o ilícito, as conversas fúteis com gente que ainda não sabe o que quer. É só isso que o seu mundo tem a lhe oferecer.
E quando a ressaca passar quem vai te oferecer consolo? É possível que a enxaqueca será sua única amiga, e uma meia dúzia de preocupações.
Você vai me procurar quando descobrir que minha ausência dói?
Do alto do meu sexto andar penso que talvez seja melhor assim, você daí com suas futilidades, e eu aqui com minhas eternidades. Agora somos dois estranhos, dois desconhecidos. E caminhos distintos.
Rubervam Du Nascimento
GOSTEI DOS POEMAS DA EMANUELA. o fluxo de seus poemas é denso. PRECISO SABER QUE EDITORA FEZ SEUS LIVROS, PARA QUE POSSA IR ATRÁS.