“Euphoria” (2017) – Por Sofia Ferrés
Euphoria. Direção: Lisa Langseth. País de Origem: Suécia, Reino Unido, Alemanha, 2017.
Euphoria (2017) é o primeiro trabalho em inglês da cineasta sueca Lisa Langseth. Escrito e dirigido por ela, carrega a visão de mundo e a psique feminina, tão necessárias e verdadeiras numa indústria que tem querido se tornar mais inclusiva em termos de gênero – mas peca por manter homens na direção e roteiro. A cineasta foca na relação entre duas irmãs, já partindo na apresentação das personagens fora dos seus lugares de conforto, num encontro atravancado e denso. As atuações são sutis e envolventes, com Alicia Vikander interpretando Ines, uma artista narcisista e fechada, e Eva Green, sua irmã Emilie, mais velha e emocionalmente crua, a qual investe nesse encontro reconciliatório com um entusiasmo maior que a sua personalidade permitiria (entusiasmo que dá nome à obra).
O cepticismo de Ines vai se transformando num ritmo crível em irritação, preocupação e fúria, uma mistura compreensível de emoções, já que ela não está com vontade de discutir a infância.
Há em Euphoria um material pesado sobre a vida, a família, a morte e o propósito girando em torno dela. A trama isola seus personagens do resto do mundo para confrontar o outro, para tentar restabelecer laços que foram quebrados. É uma premissa ambiciosa, que talvez funcionasse melhor como curta-metragem. Como alívio do enredo central, os subplots exploram o tempo e o lugar que gostaríamos de morrer e a relação da humanidade com seus corpos.
O que cumpre como fechamento quando a morte se aproxima? Euphoria acerta na constatação de que ninguém está realmente pronto para ir, e é um lembrete implacável de que, mesmo separados por anos, ressentimentos familiares podem estar desconfortavelmente vivos. Não há uma resolução clara para Ines e Emilie, talvez esse seja o aspecto mais verídico de Euphoria que ressoará no público.
*Sofia Ferrés nasceu em Montevideo, tem formação na área de Artes (Politécnica de València), Exatas (Unicamp) e Sociais (Boston University). Lançou O Pequeno Livreto de Haicais (2017) pela Oficina Tipográfica de São Paulo e en_vuelta (2018) pela Editora Laranja Original. Mora em São Paulo há 10 anos, onde gerencia uma consultoria de Design & Etnografia.