Três poemas de Juliana Schroden
Juliana Schroden é doutoranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia e realizou estágio doutoral na Université Sorbonne Nouvelle-Paris 3. É Mestre em Teoria Literária pela UFU e graduada em Letras pela mesma Universidade. É autora da obra A aventura de Abaré (2012), publicada pela editora FTD, do livro de poemas ImaRgens Urbanas (2011), com ilustrações do artista plástico Wilson Filho, pela UFU-PROEX e da Toponímia Tupi da região de Uberlândia no Triângulo Mineiro em parceria com Lídia Meirelles e Benedito Prezia (2017), pela EDUFU. Foi colunista do Jornal de Uberlândia com crônicas sobre Arte pelo mundo. Teve poemas e contos publicados em coletâneas, produziu e adaptou peças teatrais e realizou três edições do Festival Uberlândia do livro Infantil pela produtora IluMinas Artes.
***
DORDALMA
Eu pensei que era ciência a arte
De me consumir
E escrevia como quem paria
Como quem faria
Deixar de existir
Era preciso o tempo
Eu percorria espaços onde
Não havia traços nem trilhas nem feras a domesticar
Eu te doloria e te perseguia em todas as cores
Pra te consagrar
Eu não habitava mais em mim
Eu pensei que era bulimia a escrita
De uma Literatura que não se consumia
Te devolvia como quem partia
Como quem faria
O mundo se esvair
E o tempo era preciso
Eu te adoecia te sangrava te pertencia
Serpenteava na coutada abandonada
De meus próprios devaneios
Te seguia
E seguia
E sem sonho
Me perdi
Eu era apenas um esboço
Eu era quem te digeria
Eu era uma análise de teu silêncio
Eu me aborrecia
E cortando as avenidas desertas
De cada palavra tua
Os teus sinais fechados minha teoria
Já não via
(des)sentia
Meus mitos infundados num borrão
No texto
Num inconsciente sem memória
Não há filosofia
Mas eu ainda escrevia
Como quem faria
Como quem paria
Pronta que partia
Com o que sofria?
E ainda era preciso o tempo
Eu pensei que era arte a ciência
De me perseguir
E me imergia como quem morria
Como quem vazia
Começava a existir
E o tempo já era impreciso
Eu descobrira nos interlúdios sagrados
De tua poesia, onde
Não havia passos nem vias nem horas pra te redimir,
Que te corrigira e te conferira em todas as dores
De meu próprio sentir
Eu te escrevi uma Tese de mim
*
L’ÂME
Tout le temps
Que j’entends
Ton regard
Il me dit
…rien
Et dans ton rien
Je crois
pendant que
j’écoute
Le vent
Il fait de bruit
Bien que,
moi,
Je ne le voie pas
Dans
ma main
Oui, je le sens
Alors, le vent
existe
Et je ne suis
plus
Que ton âme
Ton être
Ton rêve
vivent
Dans ton rien
Je viens de vivre.
*
LAR
Os dias correram
nas mãos juntas.
Eu não vi
Deixei de ir à busca
dos nadas da estrada.
Eu não percebi
Libertei-me
daquela liberdade triste.
Eu não resisti
As sendas se teceram
a estrada continua.
Eu fiquei em ti.