Seis poemas de Lara Juvencio
Lara Juvencio nasceu em 1995 e é estudante de Ciências Sociais e Direito. Atualmente reside em Fortaleza/CE.
***
Me Olvidarás, Me Olvidarás…
Movimento suspeito,
fora não só do seu quarto, mas da estrutura geral do edifício (engana-se a cidade inteira).
Quando me atirará dele e se calará?
O olhar vem chegando perto, circulando o fogo.
Me devolva, um sono latente, pulsar da matéria morta, sempre prestes a me capturar mais velha, sempre mais velha, talvez já estou devidamente encardida, me atrapalha um desígnio mais austero de morte. É-se inocente e embaçado. Longe, apesar de somente o rosto.
no fundo no fundo no fundo
no fundo de mim
volumetria
para as mãos humanas.
Penso que há muitos anos sinto falta de algo. Talvez desde a separação – e realmente faz muito tempo. A criança com as pálpebras roxas, o mel sempre dois centímetros antes de melar, de cair. Talvez quem deveria me encontrar só não me esqueça por que eu ligo, movo um
Sopro.
*
Desenhinhos de Pássaros Azuis
Desenhinhos de pássaros azuis ora me fizeram sentir como
quando o mundo chama (neste dia estive só).
desenho 300 asteriscos sobre os blocos de vento da cidade aberta para tentar dizer
que os pássaros azuis que posso também
voam. Escrevo em pé ao atravessar a rua
e guardo o nome dos bairros esquisitos
próximos do coração.
Chego a quase correr, respiro em espiráculos
espero respostas do mundo inteiro, pois me delimito desastradamente
para ouví-lo sobre o medo, descobrindo meus recursos,
bicho completo.
*
Por exemplo o verde…
Penso que há séculos vivemos em praticalidades. Minha casa, ao contrário, está nublada agora em Cantábria, bem longe de mim. O céu baixando…
Entrego todos
meus sentimentos para as
cores primárias.
Por exemplo, o verde…
Calculo tudo: The man of my dreams survived Hiroshima, survived Nagasaki. Isto é certo. Um dia meu pai me comprou uma televisão bem pequenininha. Era rosa. Cerca de dez anos depois, I tried to be romantic, I couldn’t be romantic, e sempre estou com saudades dos cachorros vira lata, com seus olhos vira lata, seus dentes vira lata, rabinhos vira lata. Difícil o amor por um homem e não por um pau, penso.
Melhor elaborar um amor antes da próxima enchente.
Estiro minhas pernas e as vejo nuas, passagens desacoplando de minha barriga, pontinha de carne unhas-rosa bebê. Dedos que se afogam em estruturas disformes, fissuras incontidas, a experiência de desfazer-se, desmanchar-se: desafirmação do corpo como numa outra linguagem sexual:, exclusa, grudenta e bittersweet. Giram-se estes olhos, gostosos da guerra, de verde, cavando demônios lá a fundo.
sunken warships:
breves
e
sempre
memoráveis.
*
Polonês, Português
Me aguarde enquanto
dou mais um nó na
sapatilha.
Bons encontros às vezes
dão calos nos pés.
Cento-e-quarenta-e-três vulcões na Indonésia
Creio que você percebeu.
Andamos, corremos,
e eles se repetiam.
*
Geldautomat
Tarefa de casa: estudar o movimento dos pássaros aos céus
nas traduções.
A rua que vou,
vida em fragmentos soltos
(carro-listra-traço), texto do ar
do mapa
da navegação
anseio secreto jorrando do
Geldautomat, esse espaço expositivo de nossas mãos
movimentando-se em pêndulos
rentes a reciprocidade do céu.
Quantas pegadas no
sol só hoje
os dias são pura fé
de quem os percorre, as
pontas do desejo perfeitas no inferno,
corais e vibrantes – o nariz torcendo dentro
do seu short.
Te entrego o Batom-vermelho sem os feitos, talvez nas pontinhas da caneca (meu amor tem acento e é tosco) sobre palavras que encenam e a fala que desiste, o perigo de rodar o corazón todo dentro de um Volkswagen em porte de uma sensibilíssima parte
do corpo,
o caminhão de bombeiro
abrindo o tráfego, triagem bulímica
dos relâmpagos-fiapos, do corpo-alimento
(me penso rápido e vem o enjoo).
Atenção.
Há algo que se precisa
aqui
e
agora.
La pistola no es un juguete de muchachos mas por quê ela está na minha mão?
debaixo das sombras emoldurando esses
teus percursos íngremes.
Take this baby out
to eat, tudo ruge.
Meu amor, meu Sehenswürdigkeit (tão belo é o que se entrega pro sol ou sua falta toda penumbra aqui na tua rua) visto estas roupas de velcro, afim de entrelaços.
*
Amar cogumelos
Eles são assim mesmo, coisa que eu não sou. Ando sobre as placas de nomes das ruas breves (em Brooklin, Brooklin Novo) e a rua demora. Se estende fina, rasteira. Entradas para guardar tudo no corpo (meio como folhas molhadas de chuva que brilham até parecer de plástico). Macentos e apertáveis cogumelos, esponja marginal. Nas bordas, passagens, escamas – me encontro em grande apuros. Os pedestres se esbarram e logo percebem são todos comíveis, doces. O calor que a cidade grande guarda entre edifícios, o vento que me vem, que me vai e sempre volta – pra nuca, pras costas, pro frio. Tudo enorme, o que busco, mas de tantos meses, não penso que será agora em maio.
Desvio para o estouro físico
das quedas.
O que eu quero dizer é: hoje é dia quatro. Enxergo-me perfeitamente enquanto escritora, tateando no escuro. E agora todo o tempo que me mantive apaixonada por ele me falta. O tempo que me mantive desapaixonada arde. Ninguém me responde. Escovo os cabelos já escovados na penteadeira e as coisas assam nos corpos das mulheres – uma bolota na vulva, um demonio ridículo que não nos incomoda. Pelo encravado, um vestido longo. Eu digo: se atira, se faz doer antes do medo. A menina põe meu livro debaixo do braço e se entrega em algas, luminosidades subaquáticas – tensiona-se a necessidade de amar cogumelos.
um jogo tonal
uma busca que
aquece as
outras.
Você poderia me apontar qual página exata?
Eu espero.
Inez.